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O setor turístico versus a exploração sexual na - Ministério do Turismo

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O <strong>setor</strong> <strong>turístico</strong> <strong>versus</strong> a <strong>exploração</strong> <strong>sexual</strong> <strong>na</strong> infância e a<strong>do</strong>lescência<br />

ou obter <strong>do</strong>s órgãos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> serviços aos quais têm direito, ou estar a salvo<br />

da violência policial — e mais um extenso etc.” (O’Donnell, 1993). O quadro<br />

teórico anteriormente construí<strong>do</strong> também localizou problemas sérios <strong>na</strong> relação<br />

<strong>do</strong>s pobres e socialmente fracos com as burocracias para obtenção de trabalho,<br />

para obtenção de aposenta<strong>do</strong>ria, ou “quan<strong>do</strong> têm de ir a um hospital ou<br />

delegacia de polícia” (O’Donnell, 1993) observan<strong>do</strong>-se não ape<strong>na</strong>s “a imensa<br />

dificuldade que eles enfrentam para obter, se tanto, o que nomi<strong>na</strong>lmente é seu<br />

direito: é também o mo<strong>do</strong> indiferente, quan<strong>do</strong> não desdenhoso, como eles são<br />

trata<strong>do</strong>s (...)” (O’Donnell, 1993). O que o relato <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s mostra, não<br />

é ape<strong>na</strong>s a existência de preconceitos em relação a meni<strong>na</strong>s e a<strong>do</strong>lescentes,<br />

mas também o uso de força e violência contra elas, vitimizan<strong>do</strong>-as em alguns<br />

casos, in<strong>do</strong> além <strong>do</strong> tratamento desdenhoso. Nessas situações, confirma-se<br />

que o indivíduo se coloca frente às burocracias não como “porta<strong>do</strong>r de um<br />

direito”, mas como “suplicante de um favor” (O’Donnell, 1993). Certamente<br />

também pode ser visto como uma causa da não-recorrência ao Judiciário o<br />

fato de este ser visto como “distante, embaraçoso, caro e lento demais para<br />

que os desprivilegia<strong>do</strong>s tentem até mesmo ter acesso a ele” (O’Donnell, 1993),<br />

sofren<strong>do</strong> estes “várias discrimi<strong>na</strong>ções” (O’Donnell, 1993), crian<strong>do</strong>-se “a descrença<br />

da população <strong>na</strong> Justiça e o sentimento de que ela funcio<strong>na</strong> ape<strong>na</strong>s<br />

para os ricos, ou antes, de que ela não funcio<strong>na</strong>, pois os ricos não são puni<strong>do</strong>s<br />

e os pobres não são protegi<strong>do</strong>s” (Carvalho, 2005). Além dessas evidências<br />

certamente consensuais, parece que a questão é ainda mais funda, ou seja,<br />

a esses desprivilegia<strong>do</strong>s não passaria pela cabeça a recorrência ao Judiciário,<br />

conforme subsidia<strong>do</strong> pela pesquisa anteriormente apontada da não-existência<br />

da consciência de direitos para a maior parte da população.<br />

Coloca<strong>do</strong>s esses elementos, é pertinente observar o papel desempenha<strong>do</strong><br />

pelo Cedeca e como são vistas as possibilidades de enfrentamento <strong>do</strong> problema<br />

em tela. Para tanto, recorre-se ao depoimento de Koshima, para quem “o<br />

trabalho de uma ONG deve ser entendi<strong>do</strong> como um laboratório de experiências”.<br />

Uma ONG, como o Cedeca, que já tem 16 anos, atuou nesse senti<strong>do</strong><br />

bem como “supriu” políticas públicas, o que pode ser entendi<strong>do</strong> como um<br />

substituto <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Ao iniciar seu trabalho em 1994 ao lançar a pesquisa<br />

juntamente com a campanha sobre o tema, “quebrou-se um tabu, falar disso<br />

era um aberração”, pois para a área de turismo, principalmente, “éramos vistos<br />

como pessoas que queriam acabar com o turismo da cidade, nós éramos

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