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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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Primeiramente, é necessário esclarecer que as críticas aqui apresenta<strong>da</strong>s não se<br />

dirigem ao executivo Jack Welch. Tampouco visam a <strong>de</strong>smerecer sua biografia gerencial<br />

na GE. O que está em pauta é a entronização do mo<strong>de</strong>lo Welch como estado-<strong>da</strong>-arte em<br />

administração.<br />

A primeira crítica se refere, exatamente, ao entendimento <strong>de</strong>ssa experiência<br />

administrativa como panacéia gerencial <strong>de</strong> prescrição indiscrimina<strong>da</strong>. Pressupor a<br />

transferibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse conjunto <strong>de</strong> técnicas a quaisquer contextos é <strong>de</strong>sconhecer, entre<br />

outros, os <strong>de</strong>terminantes culturais que subjazem na experiência <strong>da</strong> GE. A própria<br />

concepção <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança ‘à americana’ não é facilmente transferível à cultura brasileira. O<br />

lí<strong>de</strong>r heróico e o self-ma<strong>de</strong> man são personagens onipresentes no imaginário norte-<br />

americano, resultantes <strong>de</strong> uma concepção <strong>de</strong> indivíduo caracteristicamente mo<strong>de</strong>rna –<br />

indivíduo como origem e <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>veres e direitos sociais, sobre quem as<br />

circunstâncias não assumem status <strong>de</strong> variável <strong>de</strong>terminante. Diferentemente <strong>da</strong> concepção<br />

semitradicional <strong>de</strong> individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> à brasileira, fortemente marca<strong>da</strong> pela utilização <strong>da</strong>s<br />

circunstâncias como instância explicativa <strong>de</strong> sucessos e fracassos pessoais (BARBOSA,<br />

1999). Quanto ao fenômeno li<strong>de</strong>rança, o paternalismo típico <strong>da</strong> cultura nacional, baseado<br />

em centralização do po<strong>de</strong>r e estabelecimento <strong>de</strong> vínculos <strong>de</strong> leal<strong>da</strong><strong>de</strong> (BARROS, 2003), é<br />

um arquétipo bem mais a<strong>de</strong>quado que o do lí<strong>de</strong>r heróico. Acrescente-se, ain<strong>da</strong>, que o<br />

marcante traço relacional <strong>da</strong> cultura brasileira (BARBOSA, 1999) ten<strong>de</strong> a privilegiar, na<br />

alocação <strong>de</strong> direitos e <strong>de</strong>veres, os indivíduos com ‘melhores’ re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento.<br />

Com tudo isso, é pouco provável a legitimação social <strong>de</strong> uma li<strong>de</strong>rança ao estilo Welch em<br />

uma organização tipicamente brasileira, nos mesmos termos em que esta foi legitima<strong>da</strong> na<br />

GE.<br />

Ain<strong>da</strong> na discussão <strong>da</strong> transferibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do mo<strong>de</strong>lo Welch, cabe notar que as<br />

técnicas utiliza<strong>da</strong>s nesse mo<strong>de</strong>lo são, em gran<strong>de</strong> parte, culturalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. A<br />

instituição <strong>de</strong> práticas caracteristicamente meritocráticas e individualizantes em um<br />

contexto marcado pela relativização dos <strong>de</strong>sempenhos e pelo foco nas relações<br />

(BARBOSA, 1999) enfrentará <strong>de</strong>safios diversos dos encontrados em seu contexto original.<br />

Além dos condicionantes culturais, aqui <strong>de</strong>stacados em alguns <strong>de</strong> seus aspectos,<br />

não se po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista os condicionantes estruturais e conjunturais. Estes são muito<br />

mais específicos e singulares em sua manifestação. A título <strong>de</strong> exemplo, po<strong>de</strong>ríamos citar o<br />

porte <strong>da</strong> empresa, seu ramo <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e seu posicionamento competitivo, entre outros.<br />

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