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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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I. Dialogando com paradoxos<br />

Trabalho paradoxal é trabalho sob contradições. Contudo, as contradições que o<br />

caracterizam não são <strong>de</strong> mesma natureza. E o primeiro impulso do pensamento técnico-<br />

calculante é encará-las, em sua totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, como anomalias a resolver. Erich Fromm (1986)<br />

analisa as contradições e propõe uma classificação em duas categorias: as históricas,<br />

conjunturalmente cria<strong>da</strong>s pela ação coletiva, e as existenciais, constitutivas <strong>da</strong> própria<br />

condição humana. Essa distinção é bastante útil aos objetivos <strong>de</strong>ste estudo por possibilitar,<br />

<strong>de</strong> imediato, uma reflexão sobre o que é ou não passível <strong>de</strong> resolução.<br />

Dialogar com paradoxos é, primeiramente, discernir sua natureza. É reconhecer os<br />

paradoxos <strong>da</strong> existência e aceitá-los em sua inevitabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. É, igualmente, distinguir os<br />

criados pela ação humana – muitas vezes ‘naturalizados’ – e construir, dialogicamente,<br />

alternativas mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s.<br />

A proliferação <strong>de</strong> workaholics em uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> hedonista é o paradoxo escolhido<br />

para <strong>da</strong>r início a esse diálogo. Começamos pelo termo workaholic – in<strong>de</strong>vido, se<br />

consi<strong>de</strong>rarmos que o trabalho viciante, nesse caso, não é um trabalho-opus, mas um labor<br />

intelectual servil 15 . O mais apropriado seria, então, falar-se em uma proliferação <strong>de</strong><br />

laborholics hedonistas. Interessante notar, ain<strong>da</strong>, que a tendência atual <strong>de</strong> se utilizar, nas<br />

organizações, o termo colaboradores em lugar <strong>de</strong> empregados ou trabalhadores,<br />

inadverti<strong>da</strong>mente restabelece o rigor etimológico do termo: co-laboradores – os que<br />

laboram em conjunto. O hedonismo, nosso segundo elemento <strong>de</strong> análise, parece<br />

intrinsecamente paradoxal na contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ao lado <strong>da</strong> busca <strong>de</strong> prazer imediato e<br />

<strong>da</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em adiar satisfação, verifica-se a popularização <strong>da</strong>s dietas e <strong>da</strong>s extenuantes<br />

rotinas <strong>de</strong> exercícios físicos. Bruckner (2002), por exemplo, equipara os equipamentos <strong>de</strong><br />

musculação a mo<strong>de</strong>rnas máquinas <strong>de</strong> tortura. E Lipovetsky (2004b) acrescenta que a lógica<br />

<strong>da</strong> mo<strong>da</strong> passa a ser aplica<strong>da</strong> não apenas sobre o corpo, mas ao próprio corpo. Observa-se,<br />

portanto, a coexistência <strong>de</strong> uma busca <strong>de</strong> prazer instantâneo com uma auto-aplicação <strong>de</strong><br />

disciplinas rigorosas. Estaríamos diante <strong>de</strong> um hedonismo ascético? (BRUCKNER, 2002)<br />

Essas consi<strong>de</strong>rações evi<strong>de</strong>nciam que o paradoxo escolhido (‘workaholismo’<br />

hedonista) apresenta diferentes nuances: o vício no trabalho (normalmente, uma instância<br />

<strong>de</strong> ‘<strong>de</strong>ver’) seria intrinsecamente incompatível a busca do prazer imediato (normalmente<br />

i<strong>de</strong>ntificado com o lazer e a vi<strong>da</strong> pessoal); o ‘workaholismo’ seria, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, um<br />

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