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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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Uma comparação <strong>de</strong> períodos históricos po<strong>de</strong> fornecer indícios <strong>de</strong> que o<br />

consumismo não é um fenômeno recente. No século XVIII, a profusão <strong>de</strong> itens <strong>de</strong><br />

consumo proporciona<strong>da</strong> pela expansão <strong>da</strong>s rotas <strong>de</strong> comércio, alia<strong>da</strong> ao enriquecimento <strong>da</strong><br />

burguesia, promoveu um surto consumista semelhante ao atual – ain<strong>da</strong> que sem as<br />

características <strong>da</strong> massificação pós-revolução industrial. Mas uma constatação é aplicável<br />

aos dois períodos históricos: trabalha-se mais quando há mais o que consumir (CIULLA,<br />

2000). Não importando se estamos dominados pelo consumismo <strong>da</strong> era do <strong>de</strong>scartável<br />

(BAUMAN, 1999) ou se vivenciamos o hiperconsumo <strong>da</strong> era <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> (LIPOVETSKY,<br />

2004b), o fato é que a classe média urbana experimenta, <strong>de</strong> forma intensa, uma infini<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> opções e um apelo em gran<strong>de</strong> escala para participar <strong>de</strong>sse fenômeno social. E para se<br />

cre<strong>de</strong>nciar como consumidor nesse cenário, precisa ampliar seu esforço laboral. Para a<br />

filósofa Joanne Ciulla (2000), a administração científica não apenas produziu, em<br />

abundância, bens <strong>de</strong> consumo mais baratos, como convenceu os trabalhadores a trocar a<br />

liber<strong>da</strong><strong>de</strong> no trabalho pela liber<strong>da</strong><strong>de</strong> no consumo. Afirma ain<strong>da</strong> que a melhor maneira <strong>de</strong> se<br />

obter trabalhadores <strong>de</strong>dicados e fiéis é torná-los ávidos consumidores.<br />

Deve ser ressaltado, ain<strong>da</strong>, que sob a aparente voluntarie<strong>da</strong><strong>de</strong> do consumo<br />

contemporâneo subjaz o imperativo já <strong>de</strong>scrito. Ou, mais propriamente, teríamos um<br />

consumo discricionário acompanhado por um consumo imperativo nem sempre<br />

reconhecido como tal. Po<strong>de</strong>ria se argumentar, por exemplo, que ninguém é obrigado a<br />

consumir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> forma. Essa é uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong> parcial, visto que a inexistência<br />

<strong>de</strong> sanções legais não implica a inexistência <strong>de</strong> sanções sociais, como o estranhamento, a<br />

ridicularização e a ostracização. Essas sanções coletivas po<strong>de</strong>m ser sutis, como a expressão<br />

<strong>de</strong> espanto face a um profissional que relate não ter um telefone celular, ou ostensivas,<br />

como a exclusão <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado jovem <strong>de</strong> um grupo social porque seu pai optou por<br />

não ter automóvel (fato real). Observe-se que a racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ambas as <strong>de</strong>cisões po<strong>de</strong><br />

ser explicita<strong>da</strong>: o primeiro profissional não sente necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do celular por estar quase<br />

todo o tempo próximo a um telefone fixo; e o segundo, fazendo um comparativo <strong>de</strong> custos<br />

<strong>de</strong> aquisição, manutenção, seguro e <strong>de</strong>preciação <strong>de</strong> um automóvel frente ao custo <strong>de</strong><br />

utilização <strong>de</strong> táxi, concluiu ser mais econômica a segun<strong>da</strong> opção. Mas ambas as<br />

racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, por mais consistentes, têm dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> se impor como legítimas face à<br />

lógica do consumo imperativo.<br />

O trabalho contemporâneo, já marcado pela <strong>de</strong>man<strong>da</strong> por tempo, por competências,<br />

por aprendizagem contínua, já caracterizado por sua impermanência e por seus múltiplos<br />

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