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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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9.8. Enre<strong>da</strong>mento dilemático<br />

A euetheia corporativa é a expressão figurativa <strong>de</strong> um dilema. E dilemas não faltam<br />

ao cotidiano <strong>de</strong> quem se dispõe a refletir, e não apenas a agir. Alguns dilemas são<br />

intrinsecamente insolúveis, como o <strong>de</strong> origem romana citado por Rotter<strong>da</strong>m (2005:32):<br />

“Um crocodilo tira o filho <strong>de</strong> uma mãe e lhe diz que o <strong>de</strong>volverá se ela adivinhar qual a<br />

intenção <strong>de</strong>le com relação à criança. A mãe respon<strong>de</strong>: ‘tu não vais <strong>de</strong>volvê-la’. Ele não a<br />

<strong>de</strong>volve e a mãe reclama o filho por ter adivinhado a intenção do animal. O crocodilo<br />

respon<strong>de</strong>: ‘Não, pois se eu o <strong>de</strong>volver, não terás mais dito a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>’.”<br />

Essa fábula se presta a inúmeras leituras corporativas. A mais óbvia seria a <strong>de</strong> que<br />

dilemas profissionais nem sempre têm solução satisfatória. Outra possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, também<br />

um tanto previsível, seria a <strong>de</strong> que dizer a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> nem sempre é benéfico para quem a diz.<br />

Contudo, o que propomos é refletir sobre o dilema utilizando o conceito <strong>de</strong> níveis lógicos<br />

apresentado no capítulo 7. Diante <strong>de</strong> um dilema insolúvel, em vez <strong>da</strong> escolha com garantia<br />

<strong>de</strong> fracasso, ou <strong>da</strong> não-escolha igualmente ineficaz, a solução po<strong>de</strong>ria ser escalar níveis<br />

lógicos superiores a partir dos quais o dilema pu<strong>de</strong>sse ser problematizado em outros<br />

termos. Sem a pretensão <strong>de</strong> solucionar esse dilema romano do século I, uma alternativa <strong>de</strong><br />

abor<strong>da</strong>gem seria evi<strong>de</strong>nciar a lógica subjacente ao próprio dilema. Ao invés <strong>de</strong> uma<br />

escolha discricionária, ou seja, restrita a um repertório <strong>de</strong> opções pre<strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s, o<br />

<strong>de</strong>cisor po<strong>de</strong>ria buscar uma escolha ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente autônoma. Voltando à fábula, a<br />

escolha <strong>da</strong> mãe po<strong>de</strong>ria ser a <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar a ‘ver<strong>da</strong><strong>de</strong>’ do dilema: você (crocodilo) não<br />

<strong>de</strong>seja <strong>de</strong>volver a criança e, para tanto, estruturou uma situação cuja lógica é a <strong>de</strong> garantir<br />

seu êxito. O sucesso <strong>de</strong>ssa escolha não po<strong>de</strong> ser garantido. Mas a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir<br />

sobre a questão em diferentes níveis <strong>de</strong> abstração amplia o repertório <strong>de</strong> escolhas possíveis,<br />

aumentando essa probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> – que, em princípio, era nula.<br />

O ponto a ser ressaltado é que a reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong> essencial complexa po<strong>de</strong> facultar<br />

uma perspectiva amplia<strong>da</strong> <strong>de</strong> situações dilemáticas, reduzindo, conseqüentemente, a<br />

probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> enre<strong>da</strong>mento. No entanto, os dilemas não os únicos <strong>de</strong>safios apresentados<br />

pelo trabalho corporativo. No próximo capítulo, trataremos dos paradoxos, que não apenas<br />

<strong>de</strong>safiam o profissional contemporâneo, como constituem gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> experiência<br />

ocupacional contemporânea.<br />

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