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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> organizacional seja o discurso <strong>da</strong> ‘espirituali<strong>da</strong><strong>de</strong> no trabalho’, popularizado na<br />

déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990. Ain<strong>da</strong> que alguns autores procurem <strong>de</strong>limitar o escopo <strong>de</strong>ssa<br />

espirituali<strong>da</strong><strong>de</strong> a uma busca <strong>de</strong> sentidos e <strong>de</strong> auto-realização no trabalho (ROBBINS, 2004;<br />

ZOHAR, 2000), o fato é que, sob tal rótulo, a questão religiosa termina por a<strong>de</strong>ntrar o<br />

mundo do trabalho. A organização estaria, no limite, se constituindo em alternativa às<br />

próprias instituições religiosas. Isso sem consi<strong>de</strong>rar que a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> seu caráter laico po<strong>de</strong><br />

resultar em conflitos <strong>de</strong> valores – seja entre diferentes credos, seja entre a condição<br />

religiosa e a não-religiosa.<br />

O aspecto positivo normalmente percebido nessas extensões <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> organizacional<br />

é <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m que a simples <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> sua ocorrência, por menos valorativa que seja,<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar sérias objeções. Mas o que está sendo discutido não é a intenção <strong>de</strong>ssas<br />

iniciativas, nem sua quali<strong>da</strong><strong>de</strong> intrínseca. O que está em questão é o caráter totalizante <strong>da</strong>s<br />

organizações contemporâneas: sua tendência em centralizar funções <strong>de</strong> outras instituições<br />

sociais e <strong>de</strong> se tornar um espaço hegemônico <strong>da</strong> ação humana. Se isso é <strong>de</strong>sejável e<br />

a<strong>de</strong>quado é uma outra questão. Para os objetivos <strong>de</strong>ste capítulo, nos interessa partir <strong>de</strong>ssa<br />

reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>screver o papel do trabalho corporativo como instância <strong>de</strong> construção<br />

subjetiva.<br />

As evidências apresenta<strong>da</strong>s sugerem uma erosão dos espaços tradicionais <strong>de</strong><br />

expressão social, como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s comunitárias, religiosas, recreativas e mesmo familiares.<br />

Em <strong>de</strong>corrência, o espaço profissional (ampliado) passaria a ser um cenário naturalmente<br />

privilegiado para o processo <strong>de</strong> subjetivação. Uma multinacional americana, sedia<strong>da</strong> no<br />

Vale do Silício, fez o seguinte comentário para ilustrar o comprometimento <strong>de</strong> seus<br />

empregados: “os seus corpos po<strong>de</strong>m estar em casa ou em um campo <strong>de</strong> golfe, mas as<br />

mentes permanecem no trabalho.” (BUKOWITZ, 2002: 154) Há indícios <strong>de</strong> que tal<br />

fenômeno não se restringe às empresas americanas, tampouco às <strong>de</strong> alta tecnologia. Essa<br />

seria, na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma tendência global, verificável em empresas para as quais o<br />

conhecimento seja um ativo relevante. O exemplo acrescenta um novo elemento à<br />

argumentação <strong>de</strong>ste capítulo: não apenas o espaço <strong>de</strong> trabalho se amplia à custa <strong>de</strong> outros<br />

espaços sociais, mas o próprio trabalho transbor<strong>da</strong> as fronteiras <strong>de</strong>sse espaço ampliado. O<br />

fato <strong>de</strong> se estar fora do tempo e do espaço <strong>de</strong> trabalho não implica se estar no espaço-<br />

tempo pessoal. Essas consi<strong>de</strong>rações enfatizam a relevância do trabalho corporativo como<br />

instância fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> subjetivação.<br />

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