Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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10. O TRABALHO PARADOXAL<br />
Paradoxo tem origem no grego pa??d??a (paradoxa), contrário à opinião. Em sua<br />
acepção mais usual, refere-se a antinomias e contradições <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m lógica (MORA, 1994).<br />
O paradoxo é mais uma <strong>da</strong>s características do trabalho informacional corporativo e, ao<br />
mesmo tempo, uma síntese dos três sentidos já <strong>de</strong>scritos: reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, impermanência e<br />
enre<strong>da</strong>mento. Este capítulo fará, portanto, referência a várias análises realiza<strong>da</strong>s nos<br />
prece<strong>de</strong>ntes, evi<strong>de</strong>nciando contradições nelas subjacentes. Também <strong>de</strong>svelará paradoxos<br />
adicionais, direta ou indiretamente relacionados ao trabalho corporativo.<br />
10.1. Racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>bilita<strong>da</strong><br />
Racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> é conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a razão. Sob essa aparente simplici<strong>da</strong><strong>de</strong> subjaz<br />
uma circulari<strong>da</strong><strong>de</strong> conceitual <strong>de</strong> difícil solução: <strong>de</strong>finir o que é razão. Recorrer às inúmeras<br />
escolas <strong>de</strong> pensamento para tentar capturá-la tampouco aju<strong>da</strong>, visto que “em to<strong>da</strong>s elas a<br />
razão parece ser exatamente o que racionalmente convém à razão ser, e na<strong>da</strong> além disso.”<br />
(THIRY-CHERQUES, 2004: 69). Para contornar esse <strong>de</strong>bate, ora <strong>de</strong>snecessário,<br />
optaremos por <strong>de</strong>finir racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> como a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> explicitação lógica,<br />
intersubjetivamente compreensível, <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> ação ou intento. Essa explicitação<br />
po<strong>de</strong>, ain<strong>da</strong>, se referir aos fins ou aos valores que norteiam o comportamento ou a intenção<br />
(WEBER, 2000).<br />
A racionalização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana experimenta um impulso fun<strong>da</strong>mental com o<br />
advento <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas é na industrialização que a racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> técnica, científica e<br />
econômica se instala, em <strong>de</strong>finitivo, no mundo do trabalho. A essa racionali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
dominante, mesmo no trabalho pós-industrial, é que se dirige nossa busca por aspectos<br />
paradoxais <strong>de</strong> sua utilização.<br />
O conceito <strong>de</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> limita<strong>da</strong> (SIMON, 1957) é, provavelmente, o mais<br />
conhecido exemplo <strong>de</strong> restrição <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> dominante nas organizações. Refere-se às<br />
naturais limitações <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong> custo associa<strong>da</strong>s aos processos <strong>de</strong>cisórios, que terminam<br />
por restringir a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> e a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s informações disponíveis ao <strong>de</strong>cisor. Incluem,<br />
ain<strong>da</strong>, as próprias limitações cognitivas do <strong>de</strong>cisor em li<strong>da</strong>r com tais informações<br />
(BAZERMAN, 2004).<br />
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