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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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3.2. Metamorfoses do trabalho contemporâneo<br />

O trabalho a que se refere este estudo – assalariado e eminentemente intelectual –<br />

se caracteriza como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> classe média e portadora <strong>de</strong> elevado status. No imaginário<br />

social, trabalho é freqüentemente associado a emprego – mesmo com as perspectivas do<br />

<strong>de</strong>clínio <strong>de</strong>ste, a longo prazo, no universo <strong>da</strong>s ocupações (BRIDGES, 1995; RIFKIN,<br />

1995). E por mais que as noções <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>dorismo e <strong>de</strong> autonomia ocupacional<br />

estejam se difundindo, o entendimento <strong>de</strong> trabalho como emprego ain<strong>da</strong> parece dominante<br />

no senso comum. A ‘redução’ <strong>de</strong> trabalho a emprego constitui uma <strong>da</strong>s diversas<br />

metamorfoses verificáveis no trabalho contemporâneo.<br />

Para investigar essa redução no conceito <strong>de</strong> trabalho, recorreremos, mais uma vez, a<br />

Hannah Arendt. Em uma <strong>de</strong> suas obras mais conheci<strong>da</strong>s – A condição humana –, a autora<br />

<strong>de</strong>nomina vita activa as três ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas fun<strong>da</strong>mentais: trabalho, labor e ação<br />

(ARENDT, 2004). Antes proce<strong>de</strong>r à análise <strong>de</strong>ssas três ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, cabe ressaltar que a vita<br />

activa é um contraponto à vita contemplativa do filósofo. Se na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma vi<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

contemplação é impensável ou, no máximo, pensa<strong>da</strong> como improdutivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e preguiça, no<br />

mundo antigo constituía-se na mais alta possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do existir. Na perspectiva grega,<br />

somente pensamentos e idéias seriam criações humanas ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente duradouras<br />

(CIULLA, 2000). Po<strong>de</strong>mos verificar, aí, uma primeira redução: a contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>ra apenas a vita activa uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> existencial digna.<br />

Das três ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que constituem a vita activa – trabalho, labor e ação –, resta<br />

<strong>de</strong>finir apenas a ação conforme entendi<strong>da</strong> no mundo grego: ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> pública na qual o<br />

indivíduo, entre iguais, tinha a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> expressar a excelência <strong>de</strong> suas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e<br />

<strong>de</strong> construir um legado transcen<strong>de</strong>nte à sua existência. Dentre as três ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas, a<br />

ação era, portanto, a mais eleva<strong>da</strong> (ARENDT, 2004).<br />

A mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> e a industrialização operam uma mu<strong>da</strong>nça radical nessa escala <strong>de</strong><br />

valores <strong>da</strong> vita activa. Primeiramente, a vi<strong>da</strong> pública <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser o espaço <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

política dos iguais, como na <strong>de</strong>mocracia grega, para se tornar o espaço coletivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

dos direitos privados 4 . Per<strong>de</strong>, portanto, sua transcendência em favor <strong>de</strong> uma<br />

instrumentali<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica. A industrialização, por sua vez, promove a ‘laborização’ <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva: o trabalho-labor do operário substitui, progressivamente, o trabalho-<br />

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