Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

eferida pretensão emancipatória. Mas, ainda assim, ‘produzem’ sociedades mais livres em
suas escolhas individuais e coletivas que as regidas pelo arbítrio das tradições.
Reconhecer essa ausência de fundamentos perenes no conhecimento seria, em si,
um conhecimento essencial sobre o próprio conhecimento. Que nos levaria a substituir a
metáfora arquitetônica, do conhecimento ‘fundado’ em princípios sólidos, pela metáfora
musical, da construção em movimento desse saber (MORIN, 2002). Essa transposição
metafórica suscita uma proposição semelhante para a reflexividade: em vez de uma
reflexividade referenciada a princípios imutáveis, uma sintonizada com a dinâmica da
construção coletiva de significados. Uma reflexividade que percebe seu caráter
impermanente como condição própria do existir humano. Uma reflexividade emancipada,
portanto, das expectativas irrealizáveis de apreensão do real e de torná-lo previsível,
estruturado.
Adicionalmente a esse caráter fluido do conhecimento, deve-se ressaltar sua
complexificação crescente. Não apenas o real é inapreensível na totalidade, como sua
compreensão se torna cada vez mais desafiadora. A interdisciplinaridade é um passo
fundamental para se contrapor à fragmentação e à compartimentalização das ciências
(JAPIASSU, 1976). Fundamental, mas insuficiente. A religação dos saberes precisa se dar
em bases que restaurem a dialógica explicação-compreensão, perdida com a dicotomização
Filosofia – Ciências e com a hegemonia do saber científico sobre os demais. A perspectiva
explicativa busca estruturas, regras, mecanismos, enquanto a humanista restaura a
totalidade do fenômeno. O desenvolvimento balanceado de ambas as perspectivas
restauraria a dialógica entre o pólo subcompreensivo (técnico-científico) e o pólo sub-
explicativo (humanista), resultando em uma possibilidade ampliada de relação com a
complexidade (MORIN, 2002).
Com base nessas considerações sobre o conhecimento, poderíamos acrescentar
novas características à tipologia de reflexividades proposta nesse estudo. A reflexividade
operativa seria, em grande parte, limitada ao conhecimento técnico-científico em sua
manifestação compartimentada. O foco estaria no conhecimento especializado e útil para
as demandas imediatas do trabalho. Por outro lado, a reflexividade essencial reconheceria a
complexidade das questões organizacionais e, conseqüentemente, apresentaria as seguintes
características:
• Uma reflexividade interdisciplinar, que busca explicações mais abrangentes em
quaisquer campos em que estejam disponíveis;
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