Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
PARTE 2: O TRABALHO INFORMACIONAL CORPORATIVO<br />
3. A CONSTRUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO TRABALHO<br />
Dos conceitos fun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong>ste estudo, provavelmente o trabalho seja o mais<br />
amplamente polissêmico. Uma consulta aos dicionários é suficiente para se constatar a<br />
varie<strong>da</strong><strong>de</strong> dos significados a ele atribuíveis. A História, a mitologia e a etimologia são<br />
outras fontes igualmente abun<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> material para investigação. Entretanto, esse<br />
capítulo busca <strong>de</strong>limitar o conceito recorrendo a alguns <strong>de</strong>sses caminhos sem preten<strong>de</strong>r<br />
uma abrangência <strong>de</strong>snecessária.<br />
Ressaltamos ain<strong>da</strong> que, mesmo reconhecendo a singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do trabalho<br />
contemporâneo, compreen<strong>de</strong>r suas múltiplas manifestações como construto sócio-histórico<br />
po<strong>de</strong> contribuir para o entendimento <strong>de</strong> suas características atuais. Iniciaremos esse<br />
percurso conceitual por sua <strong>de</strong>finição e pela apresentação <strong>de</strong> algumas dicotomias históricas<br />
relaciona<strong>da</strong>s ao tema.<br />
3.1. A polissemia histórica do conceito<br />
Uma <strong>de</strong>finição sucinta <strong>de</strong> trabalho e, ao mesmo tempo, bastante a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> ao<br />
contexto organizacional po<strong>de</strong>ria ser: “conjunto <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, produtivas ou criativas, que o<br />
homem exerce para atingir <strong>de</strong>terminado fim.” (HOUAISS, 2001) Contudo, mais<br />
importante que a <strong>de</strong>finição é o fato <strong>de</strong> o termo trabalho ser predominante, na língua<br />
portuguesa, para <strong>de</strong>signar tal conjunto <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Ain<strong>da</strong> que diversos sinônimos<br />
estejam disponíveis, como labor e labuta, o uso cotidiano freqüentemente recai sobre o<br />
trabalho. Outras línguas européias, por sua vez, utilizam correntemente termos sinônimos –<br />
e o fazem <strong>de</strong> maneiras distintas para <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Erga e ponos, em grego;<br />
opus e labor em latim; work e labor em inglês; arbeit e werk em alemão são alguns<br />
exemplos. Hannah Arendt (2004: 90) afirma que “a evidência fenomenológica a favor<br />
<strong>de</strong>ssa distinção é <strong>de</strong>masiado marcante para que se ignore”. E <strong>de</strong>staca um aspecto<br />
fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong>ssas duali<strong>da</strong><strong>de</strong>s: enquanto que trabalho po<strong>de</strong> ser tanto a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> como o<br />
resultado do trabalhar, labor, como substantivo, nunca po<strong>de</strong> ser o produto <strong>final</strong> do laborar.<br />
No mundo antigo, o labor esteve associado à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, à subsistência, à<br />
manutenção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> – e, como tal, <strong>de</strong>svalorizado em relação às <strong>de</strong>mais ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas.<br />
33