05.08.2013 Views

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

opus do artesão. O trabalho industrial se caracteriza como trabalho-labor pelo fato <strong>de</strong> ser<br />

‘consumido’ na produção em massa <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo. Para Arendt (2004), labor e<br />

consumo são partes indissociáveis <strong>de</strong> um mesmo processo que nos caracteriza como<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo e, ao mesmo tempo, socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ‘laboradores’. Institui-se a vitória<br />

do trabalho-labor sobre o trabalho-opus, do labor do corpo sobre o trabalho <strong>da</strong>s mãos, do<br />

animal laborans sobre o homo faber (ARENDT, 2004). E, como resultado, a vita activa<br />

sofre nova redução ao se tornar, cotidianamente, sinônimo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> labor.<br />

Robert Castel (1999), por seu turno, assinala que até o século XIX a condição<br />

assalaria<strong>da</strong> era restrita a trabalhadores não-qualificados, como carregadores e ven<strong>de</strong>dores<br />

ambulantes. Ocupações socialmente mais relevantes, como a <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> artesãos,<br />

não eram assalaria<strong>da</strong>s e tinham sua digni<strong>da</strong><strong>de</strong> associa<strong>da</strong> à profissão. Em pouco mais <strong>de</strong> um<br />

século, portanto, o assalariamento se transforma radicalmente <strong>da</strong> <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção à plena<br />

legitimação social. E a vita activa reduz-se ain<strong>da</strong> mais, tornando-se não apenas labor, mas<br />

labor assalariado.<br />

Os conceitos, as reduções e as transformações sucintamente <strong>de</strong>scritos neste capítulo<br />

permitem outra caracterização do trabalho aqui investigado. O trabalho informacional<br />

corporativo, típico <strong>da</strong> classe média urbana e com pleno reconhecimento social, po<strong>de</strong>ria ser<br />

também <strong>de</strong>nominado labor intelectual servil 5 - aí inclusos tanto o labor técnico como o<br />

labor gerencial.<br />

A discussão conceitual <strong>de</strong>ste capítulo termina por apresentar alguns paradoxos do<br />

trabalho sócio-historicamente construído. Contudo, os paradoxos do trabalho<br />

informacional corporativo, ou <strong>de</strong>sse labor intelectual servil, são <strong>de</strong> natureza singular do<br />

ponto <strong>de</strong> vista histórico. É essa singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> que apresentaremos, em <strong>de</strong>talhes, na Parte 3<br />

<strong>de</strong>ste estudo.<br />

Dando continui<strong>da</strong><strong>de</strong> à discussão dos conceitos fun<strong>da</strong>mentais, proce<strong>de</strong>remos à<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> conhecimento e <strong>de</strong> seus correlatos.<br />

4 A vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>, na concepção grega, era uma vi<strong>da</strong> submeti<strong>da</strong> à privação <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas mais<br />

amplas, somente presentes na vi<strong>da</strong> pública. A vi<strong>da</strong> familiar era, portanto, uma vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong> <strong>de</strong> tais<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s (ARENDT, 2004).<br />

5 A <strong>de</strong>nominação enfatiza que esse não é um trabalho-opus, mas um trabalho-labor; <strong>de</strong>staca seu caráter<br />

eminentemente intelectual, em oposição ao trabalho manual <strong>de</strong> baixa qualificação; e assinala sua servidão<br />

(douleia) à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> subsistência. A questão <strong>da</strong> subsistência será retoma<strong>da</strong> na Parte 3 e na Conclusão<br />

<strong>de</strong>ste estudo.<br />

37

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!