05.08.2013 Views

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

imersa num mundo <strong>de</strong> objetos e que po<strong>de</strong>, com sua razão e um método a<strong>de</strong>quado, alcançar<br />

a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse mundo objetivo. A fenomenologia <strong>de</strong> Husserl aponta o caráter originário<br />

do fenômeno como antece<strong>de</strong>nte à dicotomia sujeito-objeto. Sujeito e objeto seriam<br />

construções secundárias. Em termos hei<strong>de</strong>ggerianos, po<strong>de</strong>ríamos dizer que o ente Dasein,<br />

em sua relação com seus semelhantes e com os entes intramun<strong>da</strong>nos, <strong>de</strong>svela o ser dos que<br />

lhe vêm à presença, assim como o seu próprio ser.<br />

A diferença entre as duas concepções <strong>de</strong> sujeito po<strong>de</strong> ser ilustra<strong>da</strong> com uma<br />

analogia hei<strong>de</strong>ggeriana sobre as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s – um tema relevante no contexto <strong>da</strong><br />

escolha e do <strong>de</strong>senvolvimento profissional. Na cita<strong>da</strong> analogia, potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> seria o<br />

po<strong>de</strong>r-ser <strong>de</strong> uma lua nova em relação a uma lua cheia. No entanto, as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s são<br />

muito mais que uma trajetória pre<strong>de</strong>fini<strong>da</strong> a trilhar. Essa trajetória (a potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>) é uma<br />

<strong>de</strong>ntre várias possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. O tomar-se como uma interiori<strong>da</strong><strong>de</strong> psíquica com<br />

potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s a realizar é, portanto, um modo inautêntico <strong>de</strong> ser, posto que em<br />

fechamento. Cabe <strong>de</strong>ixar claro que o ser inautêntico não é um juízo sobre a escolha<br />

<strong>de</strong>corrente <strong>de</strong>ssa autocompreensão, mas uma apreciação a respeito <strong>da</strong> maneira como a<br />

escolha foi feita. Isso significa que uma mesma escolha fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em uma potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> ser autêntica ou inautêntica. O que está em questão é o caráter ontológico (relativo ao<br />

ser) <strong>da</strong> escolha; não o ôntico (relativo aos entes, às <strong>de</strong>cisões concretas). Um indivíduo<br />

po<strong>de</strong>, inautenticamente, escolher a engenharia porque tem facili<strong>da</strong><strong>de</strong> para ciências exatas e<br />

impessoalmente se enten<strong>de</strong>r como <strong>de</strong>stinado a ser engenheiro; por seu turno, outro<br />

indivíduo, com idêntico potencial, po<strong>de</strong> autenticamente tomar a mesma <strong>de</strong>cisão, se se<br />

enten<strong>de</strong>r como alguém com potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas, também, com inúmeras outras<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s viáveis à sua disposição. Este ‘escolhe a escolha’. O outro é escolhido por<br />

ela. Essa temática será retoma<strong>da</strong> e discuti<strong>da</strong> na Parte 3 <strong>de</strong>sse estudo.<br />

Ser e existir, abertura e fechamento, potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s são alguns dos<br />

principais pontos do pensamento hei<strong>de</strong>ggeriano utilizados em nossa investigação. Mas<br />

antes <strong>de</strong> prosseguir nesse percurso filosófico, é necessário discutir o conceito <strong>de</strong> tempo e<br />

situá-lo nesse percurso.<br />

A questão do tempo se assemelha à do ser por sua aparente simplici<strong>da</strong><strong>de</strong>: o fato <strong>de</strong><br />

isso ser um papel é tão familiar quanto o <strong>de</strong> se perceber o tempo passar. Mas tal<br />

simplici<strong>da</strong><strong>de</strong> cai por terra à primeira inquirição direta, como o fez Santo Agostinho: “O<br />

que é então o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; porém, se quero explicá-lo a quem<br />

me pergunta, então não sei.” (PIETTRE, 1997: 29).<br />

60

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!