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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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Mas algo inesperado transmu<strong>da</strong> essa bem-aventurança em infortúnio. Por não ter<br />

previsto os efeitos <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>sejo, Mi<strong>da</strong>s é confrontado com a inanição. Mesmo sendo rei e<br />

já possuindo riquezas, Mi<strong>da</strong>s almejou ain<strong>da</strong> mais. Para, ao <strong>final</strong>, repudiar em <strong>de</strong>sespero o<br />

dom recém-adquirido. Nesse ponto, po<strong>de</strong>mos estabelecer novas analogias com esse aspecto<br />

menos conhecido do mito: o trabalhador (Mi<strong>da</strong>s) <strong>de</strong> classe-média (posição social<br />

respeitável) através <strong>de</strong> seu capital intelectual (Sileno) capacita-se a produzir riqueza em<br />

bases contínuas (toque <strong>de</strong> ouro) e <strong>de</strong>seja, com seu trabalho, ampliar seu padrão<br />

socioeconômico e <strong>de</strong> consumo (mais riquezas). Mas e a inanição? A que se refere nessa<br />

analogia? Que tipo <strong>de</strong> inanição po<strong>de</strong>ria esse trabalhador-Mi<strong>da</strong>s experimentar em sua vi<strong>da</strong><br />

tão produtiva e dinâmica?<br />

Essa análise <strong>final</strong> tem, como as anteriores, um caráter propositivo e provocador.<br />

Adicionalmente, tem um caráter especulativo sobre as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> vivência do<br />

indivíduo contemporâneo em seu trabalho paradoxal. Para fun<strong>da</strong>mentar esse diálogo,<br />

iniciamos com uma afirmação <strong>de</strong> Viktor Frankl (1991: 92): “A busca do indivíduo por um<br />

sentido [significado] é a motivação primária em sua vi<strong>da</strong>, e não uma ‘racionalização<br />

secundária’ <strong>de</strong> impulsos instintivos.” Portanto, a busca <strong>de</strong> sentido (significado) seria uma<br />

preocupação central do indivíduo em suas vivências. E os sentidos, nessa acepção<br />

frankliana, são sempre específicos: referem-se a um indivíduo e a um <strong>da</strong>do momento <strong>de</strong><br />

sua existência.<br />

Voltando à analogia, po<strong>de</strong>mos dizer que uma <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s do trabalhador-<br />

Mi<strong>da</strong>s frente ao trabalho paradoxal seria a <strong>da</strong> inanição <strong>de</strong> sentidos (significados). Algumas<br />

características <strong>de</strong>scritas ao longo do estudo parecem subsidiar tal proposição: o trabalho<br />

paradoxal é um labor servil, com estruturas coletivas <strong>de</strong> significado <strong>de</strong>clinantes e com um<br />

marcante propósito <strong>de</strong> subsistência e <strong>de</strong> habilitação ao consumo. A<strong>de</strong>mais, seu ambiente<br />

(as organizações) não seria propício à auto-realização e à construção <strong>de</strong> um legado aos<br />

mol<strong>de</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia grega. Ain<strong>da</strong> que inúmeros significados sejam atribuíveis,<br />

individualmente, ao trabalho paradoxal, os indícios disponíveis sugerem que seriam, em<br />

gran<strong>de</strong> parte, significados instrumentais.<br />

Frankl (1991) acrescenta, ain<strong>da</strong>, que a felici<strong>da</strong><strong>de</strong> estaria no êxito <strong>de</strong>ssa busca <strong>de</strong><br />

sentidos. A felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, portanto, não <strong>de</strong>veria ser um objetivo em-si, mas o resultado <strong>de</strong> uma<br />

vi<strong>da</strong> plena <strong>de</strong> significado, visto que “o ser humano não é alguém em busca <strong>da</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

mas sim alguém em busca <strong>de</strong> uma razão para ser feliz.” (FRANKL, 1991: 119) Tais<br />

consi<strong>de</strong>rações apontariam o caráter ‘dionisíaco’ do i<strong>de</strong>al contemporâneo <strong>de</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong> –<br />

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