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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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profissionais corporativos adiam seu almoço para além do momento fisiologicamente<br />

aceitável, o substituem por uma alimentação ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> ou simplesmente o cancelam, não<br />

estão obe<strong>de</strong>cendo a qualquer regulamento organizacional. Da mesma forma, quando<br />

utilizam seu tempo <strong>de</strong> repouso para ocupações ou preocupações profissionais, não estão<br />

sendo constrangidos por qualquer <strong>de</strong>terminação formal. O fazem <strong>de</strong> maneira autodirigi<strong>da</strong>,<br />

motiva<strong>da</strong> por uma lógica <strong>de</strong> profissionalismo que valoriza a atuação multitarefa, o<br />

congestionamento <strong>de</strong> agen<strong>da</strong>s, a <strong>de</strong>dicação total. Essa lógica internaliza <strong>de</strong> tal forma os<br />

controles normativos que os tornam muito mais eficazes (e econômicos) que os controles<br />

externos do trabalho rotinizado taylorista-fordista.<br />

9.6. A cegueira <strong>da</strong> euetheia<br />

Erasmo <strong>de</strong> Rotter<strong>da</strong>m (2005), em seu clássico do século XVI, “Elogio <strong>da</strong> Loucura”,<br />

<strong>de</strong>nomina euetheia à loucura ou conivência indulgente que possibilita a convivência social.<br />

É a irracionali<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>clara bela a <strong>de</strong>formi<strong>da</strong><strong>de</strong> ou sensata a estultícia, se esse for o<br />

preço para a manutenção <strong>de</strong> um relacionamento relevante.<br />

Trasla<strong>da</strong>r esse termo <strong>de</strong> origem grega para a contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> corporativa não<br />

implica um exercício sofisticado <strong>de</strong> abstração. Qualquer profissional minimamente em uso<br />

<strong>de</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> reflexiva já se <strong>de</strong>frontou com situações absur<strong>da</strong>s em seu cotidiano<br />

laboral. Situações não-raro semelhantes aos enre<strong>da</strong>mentos relatados neste capítulo. Mas<br />

quem está disposto a ser o porta-voz <strong>da</strong> ‘nu<strong>de</strong>z do rei’? Quem está disposto a se indispor<br />

com quem po<strong>de</strong> dispor <strong>de</strong> sua posição?<br />

9.7. Proposição 3<br />

Além do trabalho individual, em equipe e em re<strong>de</strong>, teríamos hoje um trabalho<br />

enre<strong>da</strong>do. Enre<strong>da</strong>do em técnicas administrativas, na erosão <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> tradicional, na<br />

emergência <strong>de</strong> uma soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> instrumental, na tecnomediação amplia<strong>da</strong> dos<br />

relacionamentos intra-organizacionais, na generalização irrefleti<strong>da</strong> <strong>de</strong> ‘mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

sucesso’ e, principalmente, na hegemonia <strong>de</strong> uma lógica empresarial que ultrapassa as<br />

fronteiras organizacionais influenciando, nem sempre apropria<strong>da</strong>mente, a vi<strong>da</strong> pessoal e<br />

familiar.<br />

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