Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

Outro paradoxo, já descrito, se refere à satisfação no trabalho. Coexistem discursos
que promovem uma cultura de diversão e comemoração com outros que defendem a
incompatibilidade do local de trabalho com tais manisfestações. Discursos sobre o bem-
estar ao lado de afirmações sobre o papel do RH em ampliar a competitividade dos
empregados, e não sua satisfação. O relacionamento interpessoal no trabalho está na base
desse debate, que pode ser ilustrado por duas assertivas literárias diametralmente opostas:
se para Sartre “o inferno são os outros”, para Victor Hugo “o inferno está inteiro na minha
solidão” (MORIN, 2005: 74). Paradoxo facilmente reconhecível no ambiente corporativo,
no qual as relações humanas são fontes privilegiadas de prazer e de sofrimento cotidianos.
Três dos mais satisfeitos entrevistados nesta pesquisa declararam que a causa de sua
satisfação estava, primordialmente, no relacionamento interpessoal corporativo. Outro
entrevistado, com uma experiência igualmente satisfatória, afirma que a melhor síntese
para trabalho seria “tesão”. E o oposto de trabalho seria “tédio”. Para ele, tal ocupação é
essencialmente prazerosa, mas nem sempre concretiza sua essência devido às limitações
humanas. Considera que “se o ser humano fosse melhor eticamente, o trabalho seria
melhor” e afirma que “o problema do trabalho está nas pessoas.” Interessante destacar que
se trata de um profissional satisfeito e bem relacionado em seu ambiente ocupacional.
Um paradoxo adicional na questão da felicidade é a sua dupla condição de objetivo
supremo e, ao mesmo tempo, de recurso produtivo. A noção de que o trabalhador feliz é
mais produtivo já foi discutida no capítulo 8 sob o conceito de bem-estar. E a literatura
técnica da Administração é, inclusive, explícita na descrição do papel gerencial em atuar
nas variáveis que afetam a satisfação e a motivação visando aos resultados organizacionais.
E nessa observação não há qualquer juízo de valor. O que nos interessa destacar é que tal
literatura manifesta um desvelamento da felicidade ao modo técnico-calculante que
promove sua análise (busca de seus elementos constitutivos), predição (identificação de
condições propiciadoras) e controle (entendimento de sua dinâmica para melhor
administrá-la). A felicidade é transmudada em recurso produtivo; em objetivo instrumental
que visa ao alcance de outros objetivos.
Mas o desvelamento técnico da felicidade não se restringe a esse aspecto
relativamente evidente. Nessa dupla e paradoxal condição de objetivo supremo e de
recurso produtivo, a felicidade é também uma meta a ser tecnicamente alcançada.
Pesquisas recentes da Psicologia Positiva (SELIGMAN, 2004), estudos sobre a
‘inteligência’ da superação de adversidades (STOLTZ, 2001), técnicas de excelência
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