Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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6. SENTIDOS E POSSIBILIDADES NO TRABALHO CORPORATIVO<br />
Neste capítulo figuram alguns conceitos fun<strong>da</strong>mentais baseados em trabalhos <strong>de</strong><br />
Martin Hei<strong>de</strong>gger, como sentido, tempo, ser e ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Esses e outros conceitos são<br />
<strong>de</strong>finidos <strong>de</strong> maneira compatível com os fun<strong>da</strong>mentos ontológicos e epistemológicos <strong>da</strong><br />
investigação e articulados para possibilitar sua utilização nos capítulos propositivos <strong>de</strong>sse<br />
estudo.<br />
Iniciamos com o termo sentido e suas múltiplas acepções, já sucintamente<br />
apresenta<strong>da</strong>s no início <strong>da</strong> tese. Essa multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> é <strong>de</strong>sejável e visa a <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong><br />
polissemia inerente aos discursos sobre trabalho, possibilitando sua compreensão e sua<br />
<strong>de</strong>scrição em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
No pólo administrativo <strong>de</strong> investigação, sentido é analisado como significado e<br />
como propósito. Haveria significados compartilhados para um <strong>da</strong>do trabalho no âmbito<br />
<strong>da</strong>s organizações? Qual o propósito ou a <strong>final</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong> do trabalho informacional corporativo<br />
para as organizações contemporâneas? Sentido no pólo psicológico é, também, significado<br />
e propósito conforme percebido individualmente. O valor atribuído pelo trabalhador, bem<br />
como sua percepção <strong>da</strong> <strong>final</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong> do que realiza são pontos a investigar.<br />
Sentido po<strong>de</strong> ser também entendido como a <strong>de</strong>finição que emerge <strong>de</strong> um processo<br />
reflexivo provocado pela interrupção <strong>da</strong> interação automática com o objeto analisado<br />
(FAIRCHILD, 1974). A produção <strong>de</strong> estranheza ou <strong>de</strong>sfamiliarização <strong>de</strong> algo cotidiano,<br />
como o trabalho, po<strong>de</strong> gerar <strong>de</strong>finições menos óbvias e, ao mesmo tempo, mais ricas em<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>scritivas. Produzir estranheza é uma <strong>da</strong>s estratégias centrais <strong>de</strong>ssa<br />
investigação – em especial, nos pólos sociológico e filosófico.<br />
No pólo sociológico, sentido é significado – uma associação mental socialmente<br />
estabeleci<strong>da</strong>. Essa associação é o que permite acordo quanto à interpretação dos fatos<br />
sociais (DICIONÁRIO DE SOCIOLOGIA, 1961). Para algumas escolas <strong>de</strong> pensamento, o<br />
significado é o objeto fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> sociologia, e não as explicações causais ou a busca<br />
<strong>de</strong> estruturas sociais <strong>de</strong>scritivas (MARSHALL, 1994). A perspectiva adota<strong>da</strong> neste estudo<br />
se alinha, em seu pólo sociológico, a essa busca <strong>de</strong> significados compartilhados.<br />
No pólo filosófico, sentido po<strong>de</strong> ter a acepção <strong>de</strong> essência como também <strong>de</strong><br />
fun<strong>da</strong>mento e <strong>de</strong> direção. Na perspectiva husserliana, essência é um constituinte<br />
inalienável, imprescindível para que algo seja o que é. Por exemplo, a essência do<br />
triângulo é a idéia que permeia todo e qualquer triângulo, real ou imaginário, e que permite<br />
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