Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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Retomando os aspectos disfuncionais <strong>da</strong> racionalização organizacional, algumas<br />
afirmações <strong>de</strong> entrevistados merecem <strong>de</strong>staque. Entre parênteses, nossos comentários na<br />
forma <strong>de</strong> perguntas:<br />
• “Acho meu trabalho muito preso ao método, ao processo; Vejo uma<br />
institucionalização do método ao extremo.” (o método se torna mais importante que<br />
os objetivos?)<br />
• “Meu trabalho é prejudicado pela ineficiência burocrática.” (a organização do<br />
trabalho o <strong>de</strong>sorganiza?)<br />
• “O trabalho corporativo é ‘engessado’, é ‘<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma fôrma’” (E o discurso<br />
corrente <strong>da</strong> flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> autonomia?)<br />
• “Eu posso produzir mais que o meu emprego. O trabalho que realizo não me<br />
permite produzir o meu máximo.” (A organização limita a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
contribuição individual?)<br />
• “Tratar igual os <strong>de</strong>siguais é uma visão equivoca<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia.” (uma<br />
racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> igualitária in<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente transposta a um universo que se propõe<br />
meritocrático?)<br />
O que é problemático na discussão <strong>da</strong> hiperracionalização do trabalho é que ela<br />
esbarra na racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> do próprio exagero. Difícil argumentar contra os benefícios <strong>da</strong><br />
utilização <strong>de</strong> ferramentas <strong>de</strong> gestão como o SAP/R3 ou a ISO 9000, por exemplo. Mais<br />
difícil ain<strong>da</strong> negar-se a utilizá-las, quando o próprio mercado as exige (apesar <strong>de</strong> nem<br />
sempre ser esse o caso). Ao mesmo tempo, são evi<strong>de</strong>ntes os transtornos operacionais e<br />
humanos que promovem em sua implementação e, em muitos casos, até mesmo durante<br />
sua plena operação. Mais uma vez, o que fica evi<strong>de</strong>nte é a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se discutir<br />
uma questão imerso na lógica em que foi gera<strong>da</strong>. A tentativa <strong>de</strong> fazê-lo resulta,<br />
invariavelmente, em novo esforço racionalizador que complexifica, em lugar <strong>de</strong><br />
solucionar. A<strong>de</strong>mais, a crítica normalmente lança<strong>da</strong> a tais ferramentas é tão ineficaz quanto<br />
carente <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mentos. E o esforço <strong>de</strong> escalar níveis lógicos superiores para<br />
problematizar e apreciar criticamente essas questões não é, em absoluto, trivial.<br />
Enten<strong>de</strong>mos que a própria racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser coloca<strong>da</strong> em questão quando<br />
pensa<strong>da</strong> em fechamento, em termos <strong>de</strong> única possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sem a pretensão <strong>de</strong> apontar<br />
resposta, mas <strong>de</strong> provocar uma reflexão oposta à convencional, <strong>final</strong>izamos com uma<br />
citação <strong>de</strong> George Bernard Shaw: “O homem racional a<strong>da</strong>pta-se ao mundo; o irracional<br />
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