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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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A percepção do tempo como fluxo do passado ao futuro, vivenciado em um<br />

presente que continuamente nos escapa, encontra respaldo na Física Newtoniana e nas<br />

observações concretas do cotidiano. Mas essa mesma percepção po<strong>de</strong> ser contraria<strong>da</strong> pela<br />

Física Quântica e pela Teoria <strong>da</strong> Relativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por mais difundidos que sejam os conceitos<br />

<strong>da</strong> Física Mo<strong>de</strong>rna, não é trivial conceber como naturais o espaço-tempo<br />

quadridimensional e a in<strong>versão</strong> <strong>da</strong> ‘flecha do tempo’ nas relações causa-efeito <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminados fenômenos subatômicos.<br />

Contudo, a questão do tempo po<strong>de</strong> ser coloca<strong>da</strong> em outros âmbitos além <strong>de</strong>ste, <strong>da</strong>s<br />

ciências naturais. A percepção humana do tempo po<strong>de</strong> ser abor<strong>da</strong><strong>da</strong>, por exemplo, a partir<br />

<strong>de</strong> um referencial psicológico. Uma experiência prazerosa que passa rápido e uma<br />

<strong>de</strong>sagradável que se <strong>de</strong>mora, ambas com o mesmo tempo objetivo, são indícios <strong>de</strong> que a<br />

percepção do tempo não se dá <strong>de</strong> maneira regular como a sua medição.<br />

Menos evi<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> ser o fenômeno do tempo como experiência cultural. Na<br />

contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, o tempo é concebido como linear, objetivo e racionalizado. Mas na<br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> pré-industrial, os ciclos e ritmos naturais, bem como as concepções religiosas<br />

dominantes, configuravam um tempo cíclico, rítmico e sagrado. Um dos marcos <strong>de</strong>ssa<br />

transição foram os embates entre o tempo <strong>da</strong> Igreja (dádiva divina) e o dos mercadores<br />

(tempo é dinheiro) ao <strong>final</strong> <strong>da</strong> I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média (RIFKIN, 2005). A prática <strong>da</strong> usura, em sua<br />

<strong>versão</strong> contemporânea dos juros bancários, tem seus fun<strong>da</strong>mentos nessa vitória do tempo<br />

<strong>de</strong>ssacralizado.<br />

O tempo e o espaço <strong>de</strong>ssacralizados na mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> são separados e recombinados<br />

no que Gid<strong>de</strong>ns (2002) <strong>de</strong>nomina ‘<strong>de</strong>sencaixe’: a coor<strong>de</strong>nação pelo tempo para controle do<br />

espaço que está nas bases <strong>da</strong> organização produtiva mo<strong>de</strong>rna.<br />

O relógio urbano aos poucos se estabelece como o marcador coletivo do tempo, em<br />

substituição aos referenciais naturais. Do relógio urbano ao cronômetro <strong>de</strong> Taylor, os<br />

medidores do tempo se tornam ferramentas indispensáveis ao controle humano para a<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva. Abandonamos a cultura do calendário, volta<strong>da</strong> ao passado, à<br />

celebração e à sacralização do tempo, e instituímos a cultura <strong>da</strong> agen<strong>da</strong>, foca<strong>da</strong> no futuro,<br />

na produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e na utili<strong>da</strong><strong>de</strong> do tempo (RIFKIN, 2005).<br />

Além <strong>de</strong> objeto <strong>de</strong> investigação científica, <strong>de</strong> percepção individual ou <strong>de</strong><br />

experiência cultural, o tempo constitui-se em questão filosófica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os pré-socráticos. De<br />

Parmêni<strong>de</strong>s a Leibniz, a questão do tempo está liga<strong>da</strong> à do ser, numa i<strong>de</strong>ntificação do ser<br />

com a permanência e do não-ser com o tempo (PIETTRE, 1997). I<strong>de</strong>ntificação que só vai<br />

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