05.08.2013 Views

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> existencial do Dasein. Mas apenas isso – uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> imprópria<br />

(inautêntica) <strong>de</strong> se <strong>de</strong>svelar a si mesmo.<br />

O subtítulo <strong>de</strong>ste capítulo, <strong>de</strong>nominado “Desvelamentos do sujeito no trabalho”,<br />

contém uma ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> proposital: os <strong>de</strong>svelamentos a que nos referimos são os<br />

realizados pelo sujeito em relação aos <strong>de</strong>mais entes e, ao mesmo tempo, os <strong>de</strong>svelamentos<br />

que esse ente humano faz <strong>de</strong> si mesmo, como sujeito. Pelo que vimos, ambos estão em<br />

curso durante a existência – e o contexto <strong>de</strong> trabalho não é uma exceção. Em sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

profissional, o indivíduo exerce onticamente sua ‘capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>’ ontológica <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelar o ser<br />

dos <strong>de</strong>mais entes e <strong>de</strong> si mesmo. E isso po<strong>de</strong> se <strong>da</strong>r <strong>de</strong> duas maneiras: ao modo próprio ou<br />

autêntico, ou seja, em abertura às múltiplas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e escolhendo suas escolhas,<br />

como também ao impróprio ou inautêntico, limitado ao modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelamento técnico-<br />

calculante (<strong>da</strong> gestell) e às concepções fecha<strong>da</strong>s <strong>de</strong> si mesmo e dos <strong>de</strong>mais entes.<br />

A ontologia hei<strong>de</strong>ggeriana estabelece que, na maior parte <strong>da</strong>s vezes, somos ao<br />

modo inautêntico, sobre<strong>de</strong>terminados pelo impessoal. Em “A questão <strong>da</strong> técnica”, esse<br />

horizonte <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelamento é caracterizado como técnico-calculante (gestell) e se configura<br />

como ameaça à própria essência humana, ao atingir sua característica fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r-ser e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>svelar, tornando-o mero ‘intérprete’ <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> segundo uma<br />

única linguagem – a <strong>da</strong> técnica. Essas consi<strong>de</strong>rações relativizam sobremaneira a questão <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, tão cara aos i<strong>de</strong>ais iluministas e tão valoriza<strong>da</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> contemporânea. A<br />

liber<strong>da</strong><strong>de</strong> humana se mostra bem menos abrangente quando se constata que não somos<br />

totalmente livres nem para <strong>de</strong>terminar o que somos, visto que, <strong>de</strong> início e na maior parte<br />

<strong>da</strong>s vezes, somos o que se é impessoalmente. E, ain<strong>da</strong>, ten<strong>de</strong>mos a nos <strong>de</strong>terminar ao modo<br />

técnico-calculante, compreen<strong>de</strong>ndo-nos como disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> em um contexto <strong>de</strong><br />

disponibilização.<br />

Qual seria, então, o espaço <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> humana sob tal perspectiva? Não haveria<br />

alternativa à ditadura do impessoal e ao horizonte calculante <strong>da</strong> contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>?<br />

Em seu livro “Sereni<strong>da</strong><strong>de</strong>”, Hei<strong>de</strong>gger (1959) abor<strong>da</strong> a questão do pensamento <strong>de</strong><br />

uma maneira tão atual que parece dirigi<strong>da</strong> aos dias <strong>de</strong> hoje:<br />

“Não nos ilu<strong>da</strong>mos. Todos nós, mesmo aqueles que pensam por <strong>de</strong>ver<br />

profissional, somos muitas vezes pobres-em-pensamentos; ficamos sempensamentos<br />

com <strong>de</strong>masia<strong>da</strong> facili<strong>da</strong><strong>de</strong>. A ausência-<strong>de</strong> pensamentos é um hóspe<strong>de</strong><br />

sinistro que, no mundo atual, entra e sai em to<strong>da</strong> parte. Pois, hoje toma-se<br />

conhecimento <strong>de</strong> tudo pelo caminho mais rápido e mais econômico e, no mesmo<br />

instante e com a mesma rapi<strong>de</strong>z, tudo se esquece.” (HEIDEGGER, 1959: 11)<br />

66

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!