05.08.2013 Views

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

técnicas se dirigem à seu caráter funcionalista, excessivamente pragmático e <strong>de</strong> reduzido<br />

alcance teórico. Contudo, enten<strong>de</strong>mos que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> concor<strong>da</strong>r ou não com<br />

elas, tratam-se <strong>de</strong> críticas <strong>de</strong> nível 1 (referentes à quali<strong>da</strong><strong>de</strong> intrínseca <strong>da</strong> técnica). Não<br />

tematizam o essencial, que é o ‘para quê’. Críticas <strong>de</strong> reduzido alcance, como essas,<br />

po<strong>de</strong>riam vali<strong>da</strong>r uma técnica supostamente mais robusta, do ponto <strong>de</strong> vista teórico, sem<br />

colocar em questão a ‘quali<strong>da</strong><strong>de</strong>’ dos objetivos para os quais essa técnica estivesse sendo<br />

emprega<strong>da</strong>.<br />

O imperativo <strong>da</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, em síntese, não tematiza apenas o hedonismo<br />

paradoxal: um hedonismo comparativo e imperativo, compulsivo e compulsório.<br />

Tematiza, fun<strong>da</strong>mentalmente, a questão <strong>da</strong> autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> inautentici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s escolhas<br />

contemporâneas, enre<strong>da</strong><strong>da</strong>s em um emaranhado <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s sedutoras e nem sempre<br />

abertas ao ‘diálogo’ entre os possíveis e os necessários individuais.<br />

10.4. A primazia do presente esvaziado<br />

A experiência social e individual do tempo talvez tenha sido um dos aspectos mais<br />

impactados com as mu<strong>da</strong>nças socioeconômicas dos últimos séculos. Para o filósofo Gilles<br />

Lipovestsky, as socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas têm como um <strong>de</strong> seus fun<strong>da</strong>mentos uma radical<br />

in<strong>versão</strong> do tempo, com o futuro substituindo o passado como principal referência<br />

temporal. Ao domínio <strong>da</strong>s tradições suce<strong>de</strong> a crença no progresso como <strong>de</strong>stino<br />

coletivamente assegurado. E uma temporali<strong>da</strong><strong>de</strong> própria gra<strong>da</strong>tivamente emerge no<br />

cotidiano atual, instituindo a consagração do presente e a primazia do aqui e agora<br />

(LIPOVETSKY, 2004b).<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se o presente o único tempo que realmente ‘existe’, on<strong>de</strong> estaria o<br />

problema <strong>de</strong>ssa temporali<strong>da</strong><strong>de</strong> singular? Não estaríamos privilegiando corretamente o<br />

tempo ‘ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro’ ao focar a mente no agora?<br />

O relato <strong>de</strong> um entrevistado po<strong>de</strong> nos <strong>da</strong>r pistas para a compreensão <strong>de</strong>sse<br />

paradoxo: “Todo dia saio do trabalho com a impressão <strong>de</strong> que não fiz na<strong>da</strong>.” Explica que<br />

isso se <strong>de</strong>ve ao constante uso do telefone, caixas <strong>de</strong> correio eletrônico abarrota<strong>da</strong>s,<br />

“incêndios a apagar” e uma impressão <strong>de</strong> caos. É fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong>stacar, nesse <strong>de</strong>poimento,<br />

que o entrevistado havia <strong>de</strong>finido trabalho como “satisfação” e <strong>de</strong>clarado que gosta do<br />

ambiente corporativo e <strong>de</strong> resolver problemas. Ou seja, apesar <strong>de</strong> gostar do que faz, tem a<br />

impressão <strong>de</strong> na<strong>da</strong> ter feito.<br />

133

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!