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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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Outra vertente para investigação <strong>da</strong> impermanência ontológica é o papel do<br />

consumo nesse fenômeno. Para alguns autores, o indivíduo contemporâneo estaria imerso<br />

na cultura do <strong>de</strong>scartável, movido por pseudo-necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s (BAUMAN, 1999) geradoras<br />

<strong>de</strong> uma vertigem <strong>de</strong> consumo que resulta em endivi<strong>da</strong>mento e insatisfação crônica<br />

(LAYARD, 2005). Outros autores discor<strong>da</strong>m <strong>de</strong>ssa apreciação crítica, buscando, em seu<br />

lugar, <strong>de</strong>screver o processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> social que aí ocorre (SLATER e<br />

TONKISS, 2001). Nessa perspectiva, a construção i<strong>de</strong>ntitária é que <strong>de</strong>fine o padrão <strong>de</strong><br />

consumo e este, por sua vez, limita o universo ocupacional disponível. O mercado não<br />

seria uma instituição econômica, mas social e cultural. Seria uma instituição que or<strong>de</strong>na os<br />

<strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> pertencimento e construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> social, e não uma instância <strong>de</strong><br />

maximização <strong>da</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica. O fato é que, seja em uma perspectiva crítica, seja<br />

em uma meramente <strong>de</strong>scritiva, a questão do consumo ocupa um lugar central no processo<br />

<strong>de</strong> construção subjetiva. E a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consumir está estreitamente vincula<strong>da</strong> à<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar. Com isso, retomamos a questão do trabalho sob novo ângulo: ou<br />

estamos acometidos <strong>de</strong> uma vertigem coletiva <strong>de</strong> consumo ou submetidos a uma lógica <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> social basea<strong>da</strong> em padrões <strong>de</strong> consumo. Ambas, no entanto,<br />

produzindo o mesmo efeito: nos impelir a trabalhar ca<strong>da</strong> vez mais para nos habilitar a<br />

consumir em níveis crescentes.<br />

O que esses argumentos sustentam é o fato <strong>de</strong> o trabalho corporativo ser um<br />

elemento fun<strong>da</strong>mental na construção narrativa <strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, em que “o eu se torna um<br />

projeto reflexivo” (GIDDENS, 2002: 37), um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelamento do modo <strong>de</strong> ser<br />

humano não mais pre<strong>de</strong>terminado como nas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s tradicionais, nem mo<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>mente<br />

variável, como na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> tipicamente industrial. A amplitu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s escolhas disponíveis e<br />

sua volatili<strong>da</strong><strong>de</strong> conferem à subjetivação contemporânea uma impermanência<br />

comparativamente muito mais ampla. Essa impermanência nos teria levado <strong>da</strong> “euforia <strong>de</strong><br />

liberação” à “dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> viver”, produzindo não um indivíduo triunfante, mas<br />

“fragilizado e <strong>de</strong>sestabilizado por ter <strong>de</strong> carregar-se e <strong>de</strong> construir-se sozinho”.<br />

(LIPOVETSKY, 2004a: 21).<br />

Um exemplo expressivo <strong>de</strong> impermanência ontológica é o verificado em pesquisa<br />

<strong>de</strong> Viktor Frankl (1991) com mineiros <strong>de</strong>sempregados na Europa. Foram <strong>de</strong>tectados,<br />

nesses trabalhadores, sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção psicológica semelhantes aos que o pesquisador<br />

pô<strong>de</strong> observar durante sua prisão em Auschwitz. Intrigado com o paralelo, investigou e<br />

i<strong>de</strong>ntificou a essência do fenômeno, que possuía causas diferentes, mas a mesma razão: a<br />

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