Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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tempo em que confere ‘invisibili<strong>da</strong><strong>de</strong>’ a fatores que po<strong>de</strong>riam ser colocados em questão.<br />
Cabe ressaltar que estamos nos referindo à ausência <strong>de</strong> discussão coletiva em<br />
profundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> amplo <strong>de</strong>bate político. Certamente, essas questões estão presentes em<br />
investigações acadêmicas e produções intelectuais autônomas. Mas, ao que parece, sua<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> influenciar o mundo prático tem sido restrita – tanto na esfera<br />
socioeconômica como na organizacional.<br />
Ain<strong>da</strong> tematizando ‘reali<strong>da</strong><strong>de</strong>’ e ‘naturalização’, recorremos ao relato <strong>de</strong> um<br />
entrevistado sobre como se sentia vivendo nesse momento tecnológico. Ele afirma apreciar<br />
essa abundância <strong>de</strong> informação, a proliferação <strong>da</strong> tecnologia, a pressa. E conclui com uma<br />
frase extremamente significativa: “Acho que nasci no momento certo!” Sob a perspectiva<br />
ontológica <strong>de</strong>ste estudo, po<strong>de</strong>ríamos dizer que o profissional não nasceu no momento<br />
certo; o momento é que fez nascer o profissional ‘certo’. Seu horizonte histórico foi a<br />
condição <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa constituição subjetiva apreciadora <strong>de</strong> tais características<br />
conjunturais. E não há, nessa afirmativa, qualquer juízo <strong>de</strong> valor quanto à experiência do<br />
entrevistado. Trata-se <strong>de</strong> um indivíduo ajustado, satisfeito e com gran<strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
contribuição para sua empresa e para a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ao seu lado, contudo, muitos se<br />
ressentem <strong>de</strong>sse modo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Não apreciam tal regime <strong>de</strong> urgência, tampouco os efeitos<br />
<strong>da</strong> tecnologia na maneira como tempo e espaço pessoal são ocupados pelo espaço-tempo<br />
do trabalho. Interessante notar, no entanto, que em maior ou menor grau, todos nos<br />
constituímos subjetivamente ao modo <strong>de</strong>sse horizonte técnico-calculante.<br />
Qual seria, então, o resultado <strong>de</strong> uma reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong> essencial nesse contexto <strong>de</strong><br />
‘laborholismo’ hedonista, <strong>de</strong> hedonismo ascético e <strong>de</strong> responsabilização assimétrica?<br />
Reflexão é compatível com felici<strong>da</strong><strong>de</strong>? Essa questão nos remete ao início do capítulo,<br />
quanto ao papel <strong>da</strong> reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong> essencial no ambiente corporativo. Um dito popular, em<br />
língua inglesa, é contun<strong>de</strong>nte na resposta: Ignorance is bliss! (Ignorância é felici<strong>da</strong><strong>de</strong>).<br />
Exemplos <strong>de</strong> pensadores brilhantes e atormentados, criativos e suici<strong>da</strong>s, são por vezes<br />
tomados como indícios <strong>de</strong>ssa suposta incompatibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como a representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tais<br />
indícios é questionável, só nos resta o diálogo especulativo. Se o pleno exercício <strong>de</strong> uma<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> humana impossibilitasse a felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, estaríamos diante <strong>de</strong> uma contradição<br />
existencial quase intolerável. Consi<strong>de</strong>rando-se que a reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong> essencial amplia a<br />
compreensão <strong>da</strong> existência, ampliaria, igualmente, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> escolhas autênticas.<br />
Enten<strong>de</strong>mos que o exercício <strong>da</strong> reflexão po<strong>de</strong> ser gerador <strong>de</strong> angústia; mas, ao mesmo<br />
tempo, po<strong>de</strong> ser catalisador <strong>de</strong> transformações que, <strong>de</strong> outro modo, não seriam<br />
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