Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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• Abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> aprendizagem: a reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong> operativa é coercitivamente<br />
persuadi<strong>da</strong> pelas práticas organizacionais vigentes;<br />
• Abor<strong>da</strong>gem foucaultiana (saber/po<strong>de</strong>r): a reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong> operativa é ‘produzi<strong>da</strong>’<br />
pelos saberes institucionalizados.<br />
Essas proposições não esgotam as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>scritivas <strong>da</strong> reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
operativa, mas apontam seu caráter fun<strong>da</strong>mentalmente limitado e sobre<strong>de</strong>terminado.<br />
A reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong> essencial, por outro lado, tem como principal característica a<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> colocar em questão aspectos substantivos do trabalho. Como<br />
conseqüência, a aplicação do conhecimento ocorre <strong>de</strong> maneira qualitativamente diferente e,<br />
mais do que isso, esse conhecimento visa a objetivos mais amplos que a eficiência e a<br />
eficácia do trabalho. A reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong> essencial é, em síntese, a aplicação reflexiva do<br />
conhecimento ao trabalho <strong>de</strong> uma maneira tal que não apenas o trabalho e seus objetivos<br />
são problematizados, mas o contexto e o próprio trabalhador se tornam possíveis focos <strong>de</strong><br />
investigação.<br />
Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhar o continuum entre essas reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, aprofun<strong>da</strong>remos a<br />
investigação <strong>de</strong> características adicionais do conhecimento técnico-científico. Essas<br />
características configuram, por sua vez, novas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s à reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong> no trabalho,<br />
que possibilitarão uma <strong>de</strong>scrição ain<strong>da</strong> mais rigorosa <strong>de</strong>sse fenômeno.<br />
O projeto emancipatório do Iluminismo, que visava substituir a arbitrarie<strong>da</strong><strong>de</strong> dos<br />
saberes tradicionais pela crescente certeza do conhecimento científico, apresentava<br />
limitações essenciais (GIDDENS, 2002). O caráter transitório <strong>da</strong>s certezas científicas,<br />
sempre sujeitas a revisão e refutação (KUHN, 1998), implica a substituição <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
cabais por afirmações provisórias – algo verificável nas ciências naturais e, com maior<br />
intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, nas ciências humanas e sociais. Como conseqüência, a reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
contemporânea não ocorre em um processo <strong>de</strong> certeza crescente, mas sim <strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong><br />
metódica (GIDDENS, 2002).<br />
Essa ‘falha’ do projeto iluminista po<strong>de</strong> ser também sua gran<strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>. Ao se<br />
contrapor à lenta (e não-<strong>de</strong>mocrática) mutabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s afirmações e dos preceitos <strong>da</strong><br />
tradição pré-mo<strong>de</strong>rna, a dúvi<strong>da</strong> metódica <strong>da</strong>s ciências permitiria um nível maior <strong>de</strong><br />
controle externo, <strong>de</strong>mocrático. No entanto, o caráter quase mítico do conhecimento<br />
científico contemporâneo (DEMO, 1998) e seu impacto fun<strong>da</strong>mental nos modos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>svelamento <strong>de</strong> sentidos na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> (HEIDEGGER, 2001) po<strong>de</strong>m ser restritivos à<br />
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