Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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historici<strong>da</strong><strong>de</strong>, e não meramente explicar o que as coisas são. Provavelmente, qualquer<br />
trabalhador corporativo é capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver o que é o trabalho que executa. Menos<br />
provável é sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> problematizar as razões que constituíram esse trabalho <strong>de</strong> tal<br />
maneira, os fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> seu modo <strong>de</strong> ser, sua essência.<br />
Outra contribuição <strong>de</strong>ssas reflexões em Hei<strong>de</strong>gger seria o aprofun<strong>da</strong>mento dos<br />
conceitos <strong>de</strong> sentido. O sentido do ser seria uma apreensão, a posteriori, <strong>de</strong> um percurso<br />
temporal. Teria o caráter <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino, visto que suas razões não são visíveis enquanto o<br />
percurso não se conclui. Se fossem visíveis, seriam causas, e não <strong>de</strong>stino – como o <strong>de</strong>stino<br />
inescapável <strong>de</strong> Édipo, que só se mostra em seu epílogo (BUADAS, 2005). O olhar<br />
retrospectivo permite a apreensão <strong>de</strong> uma totali<strong>da</strong><strong>de</strong> até então invisível. O olhar<br />
retrospectivo <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger sobre a poiesis e a gestell permite apreen<strong>de</strong>r uma orientação<br />
histórica nesse processo. Permite compreen<strong>de</strong>r como a história <strong>da</strong> metafísica (busca do ser<br />
na permanência) é a história <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> tecnociência (busca <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> na certeza sobre<br />
o objeto) que configura o modo <strong>de</strong> ser contemporâneo. E como essa metafísica, origina<strong>da</strong><br />
em um outro ‘mundo’, o <strong>da</strong> poiesis grega, estava pre<strong>de</strong>stinado a gerar a gestell (BUADAS,<br />
2005).<br />
Um dos conceitos fun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong>sse estudo – o <strong>de</strong> sujeito – também requer uma<br />
caracterização própria nesse contexto ontológico e epistemológico. O pensamento mo<strong>de</strong>rno<br />
concebe o sujeito como “o eu pensante, consciência, espírito ou mente enquanto facul<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
cognoscente e princípio fun<strong>da</strong>dor do conhecimento.” (HOUAISS, 2001). A Fenomenologia<br />
<strong>de</strong>sconstrói essa concepção ao apontar o caráter originário do fenômeno, sendo sujeito e<br />
objeto construções secundárias. Hei<strong>de</strong>gger aprofun<strong>da</strong> essa ruptura quando afirma que a<br />
essência humana é sua existência: o que somos não é pre<strong>de</strong>terminado por uma<br />
permanência interior, mas por um <strong>de</strong>vir temporal. Não somos uma interiori<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas uma<br />
exteriori<strong>da</strong><strong>de</strong> 9 . O que enten<strong>de</strong>mos como sujeito seria, portanto, uma construção em<br />
an<strong>da</strong>mento, realiza<strong>da</strong> pelo Dasein em sua condição <strong>de</strong> lançado em existência. Uma<br />
construção em <strong>de</strong>vir e atravessa<strong>da</strong> por seu horizonte histórico. É preciso ressaltar, no<br />
entanto, que mesmo na condição <strong>de</strong> um construto com factici<strong>da</strong><strong>de</strong> psicológica, tal<br />
interiori<strong>da</strong><strong>de</strong> não tem caráter <strong>de</strong>terminante sobre o po<strong>de</strong>r-ser do Dasein. Consi<strong>de</strong>rando-se<br />
que o Dasein po<strong>de</strong> se tomar como um ente cujo modo <strong>de</strong> ser é simplesmente <strong>da</strong>do (tomar-<br />
se em fechamento), atribuir a essa interiori<strong>da</strong><strong>de</strong> um caráter essencial e <strong>de</strong> pre<strong>de</strong>stinação é<br />
9 O ente Dasein (Ser-aí) é, fun<strong>da</strong>mentalmente, seu próprio aí, sua abertura <strong>de</strong> significados. Ou seja, não é<br />
na<strong>da</strong> interno, mas sim o que se mostra externamente como fato.<br />
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