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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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persiste em tentar a<strong>da</strong>ptar o mundo a si mesmo. Portanto, todo progresso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos<br />

homens irracionais.” (SHAW, 2005)<br />

10.2. Paralisia dinâmica<br />

Na contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal, movimento, rapi<strong>de</strong>z e dinamismo são valores<br />

quase universais – especialmente no mundo corporativo. Uma rápi<strong>da</strong> verificação dos<br />

adjetivos correlatos permite constatar a centrali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses valores para os juízos<br />

cotidianos sobre a competência humana. E não apenas as pessoas, como também seus<br />

artefatos, se caracterizam por semelhante dinamismo. Mas o que se nota no cotidiano <strong>de</strong>sse<br />

indivíduo com suas criações? Automóveis mais rápidos e paralisados em engarrafamentos;<br />

comunicação eletrônica acelera<strong>da</strong> por conexões <strong>de</strong> ban<strong>da</strong> larga e quase inviabiliza<strong>da</strong> pelo<br />

excesso <strong>de</strong> informação inútil; processadores mais velozes ro<strong>da</strong>ndo softwares ca<strong>da</strong> vez mais<br />

pesados, o que praticamente anula os ganhos <strong>de</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> para o usuário; telefonia fixa e<br />

móvel mais acessíveis, confiáveis e rápi<strong>da</strong>s, e ca<strong>da</strong> vez menos contatos humanos; filas<br />

mais racionaliza<strong>da</strong>s e rápi<strong>da</strong>s, e ca<strong>da</strong> vez menos paciência para ocupá-las. Tais paradoxos<br />

sugerem que esse dinamismo seria, metaforicamente, mais do tipo ‘ro<strong>da</strong> <strong>de</strong> hamster’ do<br />

que ‘esca<strong>da</strong>ria’ (BENNER, 2004). Ao que parece, a reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong> operativa seria a<br />

propulsora <strong>de</strong>ssa ‘ro<strong>da</strong> <strong>de</strong> hamster’ coletiva, tornando a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana ca<strong>da</strong> vez mais<br />

acelera<strong>da</strong>, sem que isso a altere substantivamente. Girar sem sair do lugar equivale a mu<strong>da</strong>r<br />

sem alterar a essência do está sendo supostamente mu<strong>da</strong>do.<br />

No âmbito social, um aspecto que particularmente nos interessa é a questão<br />

educacional. Se, no passado, Igreja e Estado eram as instituições dominantes na educação,<br />

hoje a lógica empresarial ten<strong>de</strong> a prevalecer (MEISTER, 1999). E, nessa lógica, manifesta-<br />

se a já <strong>de</strong>scrita tirania do cliente – no caso, aluno-cliente –, que percebe a educação como<br />

‘mais um serviço’ e exige satisfação segundo seus próprios critérios. Mas será que esse<br />

aluno, freqüentemente auto-constituído como ‘uni<strong>da</strong><strong>de</strong> econômica autônoma’, submetido à<br />

lógica produtiva e a uma visão instrumental <strong>de</strong> curto prazo, é o agente mais habilitado a<br />

<strong>de</strong>finir todos os parâmetros <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino? Seriam esses os parâmetros mais<br />

a<strong>de</strong>quados para o conjunto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, numa perspectiva <strong>de</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e <strong>de</strong> longo prazo?<br />

Uma dupla negativa é a resposta mais provável. Consi<strong>de</strong>remos o seguinte raciocínio: o<br />

advento <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> instaura o estado-nação e o mercado como pólos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r,<br />

relegando um papel secundário e subordinado à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil. E o mercado assume,<br />

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