Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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• “As dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas são equivalentes em ambas as instituições. As mesmas<br />
disputas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, batalhas <strong>de</strong> ego. Mas o objetivo <strong>final</strong> do trabalho hospitalar<br />
propicia uma maior satisfação, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>ssas questões interpessoais.”<br />
• “Consi<strong>de</strong>ro a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar, na empresa ou fora <strong>de</strong>la, novamente um<br />
trabalho <strong>de</strong>ssa natureza. Um trabalho mais significativo, em que a contribuição seja<br />
mais evi<strong>de</strong>nte.”<br />
Se imaginarmos um continuum com empresas priva<strong>da</strong>s em um extremo e<br />
instituições sem fins lucrativos no outro, as organizações estatais estariam numa posição<br />
intermediária quanto à possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compartilhamento <strong>de</strong> sentidos. Interessante notar<br />
que, para muitos profissionais <strong>da</strong> estatal em que essa psicóloga atua, os sentidos<br />
compartilhados são suficientemente vigorosos para serem apreendidos como próprios<br />
(individualmente apropriados). No entanto, um indivíduo (como ela) com experiência mais<br />
intensa nesse compartilhamento, po<strong>de</strong> achar insuficientes esses mesmos sentidos. E o<br />
relato ilustra ain<strong>da</strong> outro aspecto do fenômeno: um trabalho com propósito e significado<br />
po<strong>de</strong> ser cansativo e estressante. Contudo, seu impacto é positivo para a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> quem o<br />
<strong>de</strong>sempenha, revigorando e trazendo satisfação (CIULLA, 2000).<br />
Deve ser ressaltado, entretanto, que as organizações não criam trabalhos<br />
significativos. Mesmo naquelas em que há um significado intrínseco disponível, é o<br />
indivíduo que vai, em última análise, apreciá-lo ou não. A<strong>de</strong>mais, as organizações não têm<br />
a obrigação moral <strong>de</strong> criar trabalhos significativos. O que se espera <strong>de</strong>las é ‘simplesmente’<br />
um tratamento humano e adulto nas relações <strong>de</strong> trabalho, resultantes <strong>de</strong> valores morais<br />
compartilhados em to<strong>da</strong>s as instâncias do trabalho (CIULLA, 2000).<br />
Os relatos e as análises prece<strong>de</strong>ntes indicam que o trabalho po<strong>de</strong> ter um sentido em<br />
si, um sentido compartilhado, um sentido instrumental ou nenhum sentido. Mas, em<br />
qualquer caso, esse sentido (ou sua ausência) é sempre um significado ou um propósito<br />
individualmente apreendido e apreciado. Apesar <strong>de</strong> os sentidos ten<strong>de</strong>rem a se tornar menos<br />
<strong>de</strong>finíveis coletivamente, há indícios <strong>de</strong> que um sentido está sempre presente no trabalho<br />
corporativo: o sustento. Essa proposição será apresenta<strong>da</strong> e exemplifica<strong>da</strong> a seguir, no<br />
paradoxo ‘sustento insustentável’.<br />
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