Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

“do universo da construção da ordem e controle do futuro em direção ao reino do jogo.”
(BAUMAN, 2001: 159). As ações e decisões ocupacionais estariam perdendo sua natureza
estratégica, de longo prazo, para assumir o aspecto de táticas de sobrevivência ou ‘jogadas’
com reduzido alcance temporal.
Essas incertezas são reflexivamente ampliadas na medida que a complexidade das
questões contemporâneas não comporta soluções fáceis. E o irônico é que a ampliação da
capacidade crítica frente a esse cenário não o torna, necessariamente, mais inteligível. Pelo
contrário, tal análise pode evidenciar ainda mais seu aspecto incerto e imprevisível.
O resultado da complexificação verificada no processo de individualização
contemporâneo é um Narciso 13 precocemente envelhecido (LIPOVETSKY, 2004a). Um
indivíduo para quem a liberdade pode se converter em fardo e o destino, em incerteza
crônica. E a busca por satisfação no trabalho nunca foi, provavelmente, tão desprovida de
referenciais estáveis como agora.
8.4. A impermanência do bem-estar
O conceito de bem-estar utilizado a seguir é propositalmente amplo. Será
empregado para caracterizar um conjunto de percepções individuais em relação ao trabalho
– principalmente a satisfação e, em segundo plano, aspectos motivacionais.
Satisfação pode ser definida como “a atitude geral de uma pessoa em relação ao
trabalho que realiza.” (ROBBINS, 2002: 74) Motivação, por sua vez, pode ser entendida
como um processo subjetivo que deflagra ação intencional ou, ainda, como o “processo
responsável pela intensidade, direção e persistência dos esforços de uma pessoa para o
alcance de uma determinada meta.” (ROBBINS, 2002: 151) Mesmo que pouco precisos,
esses conceitos apontam para a complexidade e para a subjetividade do fenômeno aqui
denominado bem-estar. Permitem, enfim, a proposição de um conceito para esse
fenômeno: conjunto de percepções e comportamentos favoráveis de um indivíduo em
relação a seu trabalho. Com essa definição de bem-estar, pretendemos investigar suas
características em um contexto de impermanência e incerteza crescentes – ora tratando-a
como um composto, ora referindo-se à satisfação ou à motivação isoladamente.
13 Narciso é um personagem mitológico que se apaixona por sua própria imagem refletida em um lago
(GRIMAL, 2000). É utilizado, por Lipovetsky (2004a), para representar o indivíduo contemporâneo, cioso de
si mesmo e de suas conquistas.
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