Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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enre<strong>da</strong>mentos, ain<strong>da</strong> tem que respon<strong>de</strong>r pelo atendimento a esse crescente consumo<br />
imperativo. E a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mental em <strong>de</strong>safiar essa lógica é o fato <strong>de</strong> ela ser<br />
praticamente consensual. Segundo Dejours (2001), não é uma exclusivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do modo <strong>de</strong><br />
produção contemporâneo o fato <strong>de</strong> ser exclu<strong>de</strong>nte e injusto. A novi<strong>da</strong><strong>de</strong> é a existência <strong>de</strong><br />
um tácito consenso global a apóia-la. Obviamente há inúmeras vozes dissonantes; críticas<br />
fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s estão disponíveis, especialmente em trabalhos acadêmicos. Mas a gran<strong>de</strong><br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> estaria na proposição <strong>de</strong> alternativas que mantenham os ganhos <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vi<strong>da</strong> proporcionados por esse mo<strong>de</strong>lo sem os <strong>da</strong>nos individuais e sistêmicos que <strong>de</strong>les<br />
<strong>de</strong>correm. John Ehrenfeld (2005), ex-diretor do Programa <strong>de</strong> Tecnologia, Negócios e<br />
Meio-ambiente do MIT, sugere que a própria maneira como a questão é encaminha<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>nota sua ina<strong>de</strong>quação: quando se fala em <strong>de</strong>senvolvimento sustentável, o elemento<br />
central é o <strong>de</strong>senvolvimento. Sua proposta – a <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> – requer mais do que<br />
uma simples transposição semântica; requer uma ampla ressignificação paradigmática.<br />
Uma mu<strong>da</strong>nça fun<strong>da</strong>mental, por exemplo, na forma como <strong>de</strong>finimos progresso, como<br />
utilizamos a tecnologia e como nos relacionamos com o consumo.<br />
O que se constata ao <strong>final</strong> <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações é que o trabalho corporativo,<br />
elemento fun<strong>da</strong>mental para o funcionamento do atual mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção e consumo, tem<br />
como propósito comum o provimento <strong>de</strong> sustento individual e é, ao mesmo tempo,<br />
insustentável em termos humanos e em termos globais, a se imaginar sua progressão nos<br />
termos em que está, até agora, fun<strong>da</strong>mentado.<br />
10.6. A paralisia <strong>de</strong> Epimêni<strong>de</strong>s<br />
No capítulo 7, utilizamos um paradoxo semântico (‘eu estou mentindo’) para<br />
exemplificar o conceito <strong>de</strong> níveis lógicos. Sua origem mais remota se encontra em um<br />
relato <strong>da</strong> Antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> no qual Epimêni<strong>de</strong>s, um cretense, afirma: todos os cretenses mentem<br />
(MORA, 1994). Qualquer afirmação sobre a veraci<strong>da</strong><strong>de</strong> do que diz Epimêni<strong>de</strong>s é<br />
impossível do ponto <strong>de</strong> vista lógico: sendo ele um cretense, <strong>de</strong>ve estar mentindo; mas se<br />
estiver mentindo, a afirmativa <strong>de</strong> que todos os cretenses mentem seria falsa – ou seja, há<br />
uma circulari<strong>da</strong><strong>de</strong> contraditória que não se resolve pela lógica.<br />
Uma característica dos paradoxos semânticos, ou metalógicos, é o impasse em que<br />
a explícita contradição costuma lançar o interlocutor. Acreditamos que essa mesma<br />
perplexi<strong>da</strong><strong>de</strong> acomete o indivíduo contemporâneo quando confrontado com os paradoxos<br />
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