Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...
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econhecê-lo como tal. Faz parte <strong>da</strong> essência do triângulo ter três lados, mas não o fato <strong>de</strong><br />
ter extensão ou cor. Se é possível pensar em um triângulo azul ou incolor, gran<strong>de</strong> ou<br />
pequeno, é porque cor e extensão não fazem parte <strong>de</strong> sua essência. Contudo, não se po<strong>de</strong><br />
sequer imaginar um triângulo que não tenha três lados. Essência é, então, <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como<br />
“uma ‘consciência <strong>de</strong> impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>’, isto é, como aquilo que é impossível à consciência<br />
pensar <strong>de</strong> outro modo: o que não se po<strong>de</strong>ria suprimir sem <strong>de</strong>struir o próprio objeto é uma<br />
lei ontológica <strong>de</strong> seu ser, pertence à sua essência.” (DARTIGUES, 1973:35).<br />
As acepções filosóficas <strong>de</strong> sentido são, provavelmente, as menos freqüentes no uso<br />
cotidiano. Por sua importância fun<strong>da</strong>mental à investigação aqui empreendi<strong>da</strong>, merecerão<br />
um tratamento especial neste capítulo. Na perspectiva <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger, essência, fun<strong>da</strong>mento<br />
e direção constituem uma acepção particular <strong>de</strong> sentido que será <strong>de</strong>limita<strong>da</strong> através <strong>de</strong> sua<br />
utilização em diferentes textos, iniciando por sua obra mais conheci<strong>da</strong>: Ser e Tempo.<br />
6.1. Ser e tempo<br />
A interrogação radical sobre o ser em sua relação com o tempo é uma questão<br />
fun<strong>da</strong>mental em Hei<strong>de</strong>gger. Constitui, ain<strong>da</strong>, o cerne <strong>de</strong> sua contribuição original ao<br />
pensamento contemporâneo. Tal originali<strong>da</strong><strong>de</strong> implica, em muitos casos, a criação <strong>de</strong> uma<br />
terminologia própria. Hei<strong>de</strong>gger lança mão <strong>de</strong> vocábulos <strong>da</strong> tradição filosófica, nem<br />
sempre em seu sentido original, ao mesmo tempo em que emprega termos <strong>de</strong> uso corrente<br />
com significado diverso. À complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse pensamento se soma a estranheza pela<br />
terminologia singular, tornando a leitura <strong>de</strong> suas obras um <strong>de</strong>safio para os não-filósofos.<br />
Em tais circunstâncias, a proposta <strong>de</strong>sse capítulo não po<strong>de</strong>ria ser a <strong>de</strong> apresentar<br />
extensivamente a produção intelectual <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger. O que se preten<strong>de</strong> é sintetizar alguns<br />
<strong>de</strong> seus temas fun<strong>da</strong>mentais, priorizando os que serão utilizados para a análise filosófica<br />
<strong>de</strong>sse estudo. Ao mesmo tempo, esses temas estão implicitamente presentes na própria<br />
maneira como a investigação foi conduzi<strong>da</strong> e estrutura<strong>da</strong>.<br />
Em Ser e Tempo, Hei<strong>de</strong>gger (1997) promove uma ruptura com a tradição <strong>da</strong><br />
metafísica ao argumentar sobre o esquecimento do ser na Filosofia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Platão. A partir<br />
<strong>de</strong> uma ‘<strong>de</strong>cisão’ grega <strong>de</strong> dois milênios atrás, a questão do ser se converte à busca <strong>da</strong><br />
permanência, do atemporal. O ser seria algo que constitui o ente 6 , como o eidos (idéia,<br />
forma, essência) e a ousia (substantia, substância) (DUBOIS, 2004). Algo que<br />
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