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Tese de Doutorado - versão final - Sistema de Bibliotecas da FGV ...

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aseava-se no duplo pressuposto <strong>de</strong> que o enriquecimento pelo trabalho seria um sinal<br />

divino <strong>da</strong> condição <strong>de</strong> ‘eleito’ e <strong>de</strong> que a austeri<strong>da</strong><strong>de</strong> no uso <strong>da</strong> riqueza seria uma<br />

conseqüência natural <strong>de</strong>ssa mesma condição. O atual padrão <strong>de</strong> consumo norte-americano,<br />

em especial dos mais jovens, parece romper com essa ética <strong>de</strong> trabalho e austeri<strong>da</strong><strong>de</strong>. A<br />

busca <strong>da</strong> riqueza sem esforço, o <strong>de</strong>sejo do estrelato instantâneo e a compulsão pelo<br />

consumo se tornam fins em si mesmos (RIFKIN, 2005). Ressalte-se, contudo, que tal<br />

comportamento não parece ser uma exclusivi<strong>da</strong><strong>de</strong> norte-americana, mas um padrão<br />

verificável em escala mundial, ain<strong>da</strong> que com nuances locais.<br />

Ao lado <strong>de</strong> uma consistente crítica a esse consumismo compulsivo e exclu<strong>de</strong>nte<br />

(BAUMAN, 1999) encontra-se, por exemplo, a discussão <strong>de</strong> um hedonismo ético como<br />

alternativa para a manutenção do bem-estar alcançado e para sua extensão aos ain<strong>da</strong><br />

excluídos (ONFRAY, 1997). Uma alternativa que não con<strong>de</strong>na, a priori, os prazeres<br />

proporcionados pela vi<strong>da</strong> contemporânea e, igualmente, não propõe soluções <strong>de</strong> força<br />

incompatíveis com os princípios <strong>de</strong>mocráticos. Contudo, o que nos interessa para a<br />

discussão dos paradoxos no trabalho não é reprisar a crítica ao consumismo nem<br />

conjecturar sobre uma alternativa ain<strong>da</strong> em elaboração filosófica, como o hedonismo ético.<br />

Interessam-nos outros aspectos provavelmente mais inusitados do tema e que afetam,<br />

diretamente, a experiência ocupacional contemporânea.<br />

Uma rápi<strong>da</strong> análise <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> atual, em especial <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> classe média <strong>de</strong> um<br />

profissional corporativo típico, forneceria inumeráveis indícios <strong>de</strong> que nossa relação com o<br />

prazer é caracteristicamente epicurista. A legitimação dos prazeres do corpo, o culto à boa-<br />

forma e a ‘marketização’ <strong>da</strong>s sensações (visuais, gustativas, olfativas, auditivas e táteis)<br />

são alguns exemplos do quão distantes estaríamos <strong>de</strong> uma postura estóica <strong>de</strong> rejeição ao<br />

hedoné. Contudo, esse triunfo epicurista é apenas aparente. A valorização do prazer e sua<br />

experiência pelo indivíduo contemporâneo não produz felici<strong>da</strong><strong>de</strong> (eu<strong>da</strong>imonia) como<br />

esperado porque é incapaz <strong>de</strong> produzir ataraxia (imperturbabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, sereni<strong>da</strong><strong>de</strong>).<br />

Duas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s se abrem à investigação <strong>de</strong>ssa busca <strong>de</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>. A primeira,<br />

basea<strong>da</strong> em estudos <strong>de</strong> economia e comportamento, mostra que a percepção <strong>de</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

do norte-americano <strong>de</strong>cresceu nos últimos cinqüenta anos, em que pese a multiplicação <strong>da</strong><br />

ren<strong>da</strong> individual e a ampliação <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo verificados nesse período<br />

(LAYARD, 2005). Muito mais do que provar que dinheiro não traz felici<strong>da</strong><strong>de</strong> (apesar <strong>de</strong> a<br />

falta <strong>de</strong> dinheiro lhe ser um impedimento), essa pesquisa <strong>de</strong>monstra que a percepção <strong>de</strong><br />

felici<strong>da</strong><strong>de</strong> é sempre relativa. Se o padrão <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> todos sobe ao mesmo tempo, o<br />

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