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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 99<br />

o leitor, a presa na ponta do fio, perseguindo a satisfação romanesca de<br />

conhecer o fim da história. Ele crê que descobriu o fio entrecoberto, cujas<br />

pistas ele soube decifrar, mas elas foram cuidadosamente mal apagadas, e<br />

o fio é que conduz o leitor.<br />

Esse controle a que o leitor da série Harry Potter é induzido a sentir<br />

sobre o texto não é, assim, o erotismo da fenda, tampouco o prazer do<br />

strip-tease LV , este, típico das narrativas de suspense. A diferença, que<br />

afasta a série tanto da literatura de gozo, como também da literatura de<br />

prazer (de massa, conforme Barthes), é que se trata de literatura juvenil.<br />

Sua estrutura, portanto, é armada para esse leitor. Na primeira camada do<br />

texto, portanto, aquela em que a temporalidade da narrativa constrói uma<br />

história legível, deve haver um caminho estável para o leitor, que permita<br />

seu pisar firme. A descida para instâncias mais profundas, possível ao leitor<br />

adulto, deve ser, para o leitor juvenil, uma opção, e a resistência do texto<br />

à sua entrada deve estar à altura dessa vontade.<br />

Assim, por um lado, “nada a ver com a profunda rasgadura que o texto<br />

da fruição imprime à própria linguagem” LVI , já que é preciso estabelecer um<br />

diálogo com o leitor. A proposição de uma linguagem de desconstrução da<br />

narratividade, voltada para si mesma, a burlar os sentidos, afastaria o leitor<br />

juvenil. Os vazios não podem causar erosão no texto, de modo a dificultar o<br />

ritmo de leitura, mas, sim, promover a vontade do leitor em nele penetrar,<br />

preenchendo-os.<br />

De outro lado, diferente da literatura de massa, cuja temporalidade de<br />

leitura, como diz Barthes, permite saltos quantitativos sem que se perca<br />

o fio, o leitor de Harry Potter não é incentivado a correr pelo texto, em<br />

busca do sentido final. Ao contrário, incentivado pelo narrador misterioso,<br />

que propõe a confiança em Dumbledore ao mesmo tempo em que insere<br />

a dúvida em relação ao seu aliado Snape, e que não contrapõe nem avalia<br />

os acontecimentos, o leitor debruça-se sobre o texto numa leitura cuidadosa.<br />

Cada palavra pode ser uma chave, uma palavra mágica que permita<br />

a abertura de portas, passagens para o lado das descobertas.

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