HIPERLEITURA
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Ana Cláudia Munari Domingos 105<br />
e o leitor juvenil, em séries e jogos, o leitor adulto pode encontrar suas<br />
referências na mitologia e em outros textos. Quando, nos últimos livros<br />
da série, a indeterminação semântica diminui – porque já formatado todo<br />
o universo espaçotemporal da narrativa, incluindo personagens, espaço,<br />
objetos, etc. –, dando lugar para as lacunas pragmáticas, o leitor infantil<br />
perde um tanto de interesse. O leitor juvenil, além de identificar-se com os<br />
conflitos do protagonista – também um adolescente –, é evocado, tanto<br />
pela indeterminação sintática – os cortes temporais e espaciais estão à<br />
altura de sua capacidade cognitiva – quanto pragmática – que o habilita<br />
a ser um leitor competente, pois ele sente-se capaz de erigir as relações<br />
necessárias à compreensão do texto. Essa participação guia a comunicação<br />
que se estabelece entre texto e leitor, que se sente um jogador hábil. É um<br />
diálogo em que o leitor juvenil também é emissor.<br />
A curiosidade em conhecer o desfecho também está relacionada à<br />
necessidade do leitor em provar ser eficaz a sua leitura – que o levou a<br />
encontrar o sentido correto do texto, respondendo aos enigmas antes que<br />
eles fossem revelados. Essa é uma questão que, controlada pela indeterminação<br />
pragmática, agrada principalmente ao leitor juvenil e adulto. Para<br />
este, o sentido do texto pode alcançar camadas cujo nível de indeterminação<br />
oculte as perguntas aos leitores mais jovens, caso da relação entre os<br />
sonserinos e os nazistas, ou entre o ataque dos bruxos e o terrorismo, ou<br />
mesmo as questões psicológicas que envolvem a formação de identidade<br />
do protagonista. Os diferentes níveis de indeterminação, portanto, é que<br />
evocam a participação de diferentes leitores.<br />
Essa classificação proposta por Iser, que situa a ocorrência de lacunas<br />
entre os campos sintático, semântico e pragmático, é muito importante<br />
para a compreensão da estrutura do apelo da série Harry Potter, uma vez<br />
que situa o lugar de distintos leitores invisíveis no texto, que participam<br />
diferentemente da sua concretização. No entanto, meu interesse recai<br />
mais especificamente sobre os procedimentos como um todo que gera<br />
o processo comunicativo do texto, levando o leitor a erigir respostas.<br />
Especificar exatamente em que ponto desse processo (sintático, semântico