HIPERLEITURA
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Ana Cláudia Munari Domingos 75<br />
trato como a qualidade do não determinado na constituição do objeto literário,<br />
a motivação para a interação entre o texto e o leitor – aquele espírito<br />
capaz de provocar o cruzamento entre códigos, horizontes e enciclopédias,<br />
através da participação do leitor, conduzindo-o em direção aos sentidos e<br />
a um sentido particular do texto.<br />
Iser enumera algumas condições formais que propiciam o surgimento<br />
de indeterminação no texto; a primeira delas é a organização da história<br />
em partes, capítulos ou séries, recortados e disponibilizados ao leitor em<br />
porções capazes de despertar o desejo pela continuação. Essa forma de<br />
publicação era usual no século XIX, como os folhetins, e Iser XXIII cita o caso<br />
de Dickens, que buscava a reação de seus leitores no período entre cada<br />
texto de uma história. No Brasil, temos vários exemplos, entre eles o de<br />
Machado de Assis, que publicou grande parte de seus romances através de<br />
jornais, mantendo em suspense seus leitores semana a semana. Mas não<br />
basta apenas seccionar a história; para aumentar o grau de indeterminação,<br />
é necessário saber o momento exato de fazer o corte, interrompendo a<br />
ação justamente quando há a necessidade de um desfecho ou reviravolta.<br />
Um exemplo contemporâneo de construção textual em que essa estratégia<br />
pode ser constatada é a série literária Crepúsculo 32 , de Stephenie<br />
Meyer, que tem conquistado, na esteira de Harry Potter, fãs-leitores pelo<br />
mundo todo. Escrita em quatro volumes, cada um deles conduz à leitura<br />
do seguinte, pela grande quantidade de indeterminação sobre o desfecho<br />
dos acontecimentos. Para inserir esses vazios, o narrador-personagem,<br />
a protagonista da série, abre o texto com um prólogo em que se desloca<br />
para o epílogo da história, para então narrá-la através de analepse. A<br />
antecipação sutil do desfecho da história provoca o leitor a estabelecer<br />
suposições durante toda a leitura, relacionando os acontecimentos àquilo<br />
que foi anacronicamente consumado.<br />
32<br />
Série cujo primeiro volume foi lançado em 2005, Crepúsculo, seguido de Lua nova (2006), Eclipse<br />
(2007) e Amanhecer (2008). São narrativas interdependentes, embora cada uma tenha uma<br />
ação que desenvolve um nó e um desenlace específicos, sobre o romance entre uma jovem estudante<br />
e um vampiro, membro de uma espécie supostamente existente entre os humanos.