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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 163<br />

Tal ligação entre modos de pensar a vida, no entanto, não justifica, ainda,<br />

a motivação para a resposta de Ransom, embora explique muito bem seu<br />

gosto por aquela leitura. Isso pode ser aliado ao fato de que outros leitores<br />

também se sentem compelidos a falar sobre o texto de Rousseau, como<br />

anota Darnton, que descreve episódios relatados em cartas dirigidas ao<br />

autor por “leitores comuns de toda sociedade [que] perderam a cabeça” LXII :<br />

Choravam, sufocavam, vociferavam, examinavam em profundidade<br />

as suas vidas e decidiam viver melhor, depois aliviavam seus corações<br />

com mais lágrimas – e em cartas a Rousseau, que colecionava<br />

seus testemunhos num imenso maço; e este foi preservado, para<br />

o exame da posteridade. LXIII<br />

O que Darnton não se pergunta (embora leve a algumas respostas) é<br />

por que esses leitores de Rousseau sentiam necessidade de responder ao<br />

texto, escrevendo sobre ele. Não bastava ler e chorar, era necessário falar<br />

sobre essa experiência e ainda questionar a história e o destino das personagens.<br />

Sabedor de que a obra de Rousseau não era a primeira a causar esse<br />

tipo de “epidemia”, Darnton demonstra que a diferença estava no fato de<br />

que Jean-Jacques “inspirava nos leitores um desejo irresistível de entrar em<br />

contato com as vidas que existiam por trás da página impressa” LXIV . Uma<br />

possibilidade para tanto, além daquela provável identificação, estaria no<br />

fato de que a forma epistolar e a aura de veracidade imposta pelo escritor<br />

ao romance La nouvelle Héloïse, através dos prefácios, conseguiu fazer<br />

com que os leitores acreditassem na existência daquelas personagens. O<br />

desejo de conhecer e de participar das vidas de tão virtuosas criaturas é<br />

que impulsionaria, para Darnton, a escrita daquele leitor.<br />

Impõe-se aqui a questão referente à afirmação de Darnton sobre a<br />

grande distância que ele julga existir entre os leitores do Antigo Regime e<br />

os atuais 63 , quando relata os muitos episódios de desespero dos leitores de<br />

La Nouvelle Héloïse com a morte da personagem Julie. Entretanto, se, como<br />

diz Darnton, esse romance de Rousseau “foi, talvez, o maior best-seller do<br />

63<br />

A primeira edição de O grande massacre de gatos é de 1984, e é portanto esse o ponto temporal de<br />

comparação.

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