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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 73<br />

Atribuir a constituição de sentido a um sujeito leitor – um leitor imanente<br />

que deve ser encontrado pelo leitor empírico, ou mesmo descrito<br />

pelo leitor-crítico – remete-nos novamente à questão da subjetividade do<br />

ato interpretativo e suas múltiplas possibilidades. Umberto Eco propõe<br />

que as estratégias do texto devem conduzir a interpretações que, embora<br />

plurais, não se excluam, mas ecoem entre si. Assim, só o leitor postulado<br />

pelo texto é capaz de produzir aquele objeto; caso contrário, ou a obra<br />

torna-se outra, ou o texto torna-se ilegível. Tal estratégia, portanto, não<br />

apenas abre possibilidades ao leitor, como limita sua conduta. No caso de<br />

Harry Potter, esse leitor-modelo dialoga com milhares de leitores empíricos<br />

muito diferentes, permitindo conexões que levam ao sentido – e ao prazer<br />

que ele provoca – através do cruzamento de universos os mais distintos. O<br />

diálogo estabelecido entre esse leitor-modelo e os vários leitores empíricos<br />

diferentes não parece desvirtuar o sentido do texto, tampouco impossibilita<br />

uma concretização aproximada entre as múltiplas leituras que provoca 29 .<br />

A pergunta que então cabe é se esse sujeito não empírico – ou a estratégia<br />

do leitor-modelo – pode ser visualizado no texto. É uma questão<br />

também proposta por Wolfgang Iser: “o que realmente acontece entre<br />

texto e leitor?” XXI . Se Umberto Eco cita os não ditos do texto como os<br />

elementos que justamente provocam o movimento do leitor, cooperando<br />

com a constituição do texto através de sua atualização, Wolfgang Iser mais<br />

peremptoriamente estabelece os vazios do texto como a condição fundamental<br />

para a constituição de sentido pelo leitor. Embora acentue que não<br />

seja possível localizar formalmente o vazio no texto, Iser demonstra que<br />

ele é perceptível, durante o ato de leitura, diferentemente pelos leitores:<br />

lacunas que exigem sua entrada, como uma pergunta invoca uma resposta,<br />

quer ela seja dada ou não.<br />

O caminho para se chegar à significação de uma obra literária dá-se<br />

por etapas e é descrito por Iser como resultado do processo fenomenológico<br />

da leitura. Esse processo ocorre durante a percepção dos aspectos<br />

29<br />

Essa pode ser uma característica que se costuma atribuir à literatura de massa, que não possibilita<br />

concretizações distantes. No quarto capítulo, discuto essa questão.

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