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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 111<br />

nunca acreditava” 70 nele. Assim, além de uma extensa lacuna temporal na<br />

vida do herói da história, alguns detalhes dão margem a que se imagine<br />

uma vida estranha e ainda infeliz para o menino durante esse período, em<br />

que ele é, ora maltratado, ora ignorado pela família. A pergunta, aquém<br />

do vazio histórico de Harry, é como pôde ele ter-se tornado o menino que<br />

sobreviveu, inteligente, bondoso, extremamente humano, como a história<br />

comprova nos volumes seguintes, vivendo dessa maneira.<br />

Sobre esse intervalo temporal, assim, o leitor recebe poucas informações,<br />

aquelas mesmas que o herói consegue recordar: sempre os acontecimentos<br />

estranhos que ele protagoniza e não entende. Tal como o leitor, ele está<br />

cheio de dúvidas sobre o passado e sobre sua própria identidade, e, como<br />

nós, não tem a quem questionar: “E não faça perguntas”, repreende-o a<br />

tia 71 . O leitor aproxima-se do menino e, assim como Harry, pressente que<br />

terá que encontrar por conta própria as respostas.<br />

Da mesma forma, há lacunas temporais entre os acontecimentos narrados<br />

em analepse, como aqueles que são vistos por Harry na penseira: a visita<br />

de Dumbledore ao menino Tom Riddle no orfanato, a expulsão de Hagrid da<br />

escola, ou ainda aqueles que as personagens relatam, como o assassinato<br />

dos pais de Tom. Os intervalos temporais são o campo de liberdade do<br />

fanficcer. Mais do que a participação do leitor em preencher os não ditos,<br />

estabelecidos entre os esquemas do texto, o vazio temporal é um convite<br />

à criação – as fronteiras da narrativa abrem-se às invenções do fanficcer,<br />

porque há pouco controle do texto sobre suas respostas.<br />

A comunicação que se estabelece entre leitor e texto, ao final da série,<br />

modifica-se intensamente. Na falta de respostas do texto, o leitor pode retornar<br />

a ele e rever suas concepções, mas há um momento em que o texto<br />

silencia, deixando o leitor em suas próprias suposições. Para o fanficcer,<br />

essa lacuna é a motivação para continuar a ler uma história cuja narração<br />

foi interrompida. No entanto, talvez seja possível perceber que o leitor invisível<br />

do texto escolhe permanecer na página fechada, dando forma apenas<br />

70<br />

HP 1, p. 25<br />

71<br />

HP 1, p. 22.

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