HIPERLEITURA
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Hiperleitura e escrileitura<br />
da representação desse “mundo no papel”, sob dois ângulos: as mudanças<br />
associadas à leitura e à interpretação de textos – “que ocorrem no modo<br />
como as crianças compreendem a relação entre ‘o que foi dito’ e ‘o que se<br />
quis dizer’” XXII – e seu interesse nas relações possíveis entre as reformas da<br />
Igreja, o nascimento da ciência moderna e a psicologia mentalista:<br />
Em um sentido importante, nossa literatura, nossa ciência, nosso<br />
direito e nossa religião constituem artefatos da escrita. Vemos a<br />
nós mesmos, vemos nossas ideias e nosso mundo em termos desses<br />
artefatos. Em consequência, vivemos não tanto no mundo quanto<br />
no mundo tal como ele é representado por esses artefatos. XXIII<br />
Para Olson, as diferentes modalidades de escrita não apenas conduziram<br />
a linguagem oral para o papel: “E o princípio é este: em algum ponto da<br />
evolução dos sistemas de escrita, esta passou a preservar e, portanto, a fixar<br />
as formas orais no espaço e no tempo”. XXIV Uma forma de distinção entre<br />
as formas de falar/ouvir e escrever/ler é a associação entre os modos de<br />
preservação da memória: a narrativa mitológica era poética, pois a tradição<br />
oral depende da rima e do verso, como uma técnica para a memorização;<br />
a narrativa histórica – e a origem da História é associada justamente ao<br />
surgimento da escrita – é prosaica, e necessita da lógica e do nexo como<br />
forma de fixação – a sintaxe da causa e consequência, do princípio, meio<br />
e fim, do sujeito e do predicado.<br />
A escrita, ainda conforme Olsen, não apenas representa o pensamento<br />
– cuja forma oral é outra – mas transforma a sua lógica e traz à consciência<br />
seus recursos e processos: “A escrita não só nos ajuda a lembrar o que<br />
foi pensado e dito como nos convida a considerar um e outro de modo<br />
diferente”. XXV A linguagem escrita, o papel e o livro foram os meios para o<br />
desenvolvimento da nossa sociedade de uma forma mais ampla do que o<br />
conceito de suporte. Não pudemos apenas preservar a história e o conhecimento<br />
através dos livros, mas a forma com que aprendemos a escrevê-los<br />
influenciou mesmo nosso pensamento e nossa forma de enxergar o mundo.<br />
Daí em diante, a velocidade das transformações foi potencializada.