HIPERLEITURA
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Hiperleitura e escrileitura<br />
segundo, como “meio”, materialidade técnica. Mas isso não desfaz a constante<br />
confusão entre os novos conceitos tecnológicos, alvos da própria virtualidade<br />
e da inconstância do ambiente que os revela, frente à permanente<br />
transformação dos meios de comunicação. Há, ainda, a versão de Vaughan,<br />
para quem “a multimídia torna-se hipermídia quando seu projetista oferece<br />
uma estrutura de elementos interconectados através da qual um usuário<br />
pode navegar e interagir”. IX Enfim, também mostro como a convergência<br />
de mídias termina por hibridizar os sentidos ou as diferenças entre texto e<br />
mídia, fato consumado e irrevogável.<br />
Para muitos estudiosos, inclusive para Theodor Nelson e Pierre Levy,<br />
proprietários intelectuais da marca 7 , o conceito de hipertexto nunca foi<br />
colocado em prática na forma como previsto, o que hoje nem seria viável.<br />
Para eles, o hipertexto deveria permitir que o próprio usuário – e não apenas<br />
o programador – inserisse links, mas sempre de forma que toda a rede<br />
interligada por eles terminasse em alterar o conteúdo – ou influenciar o<br />
sentido – do texto fundamental, numa via que sempre a ele retorne. De<br />
forma simplista – e aceitando a existência do hipertexto como uma rede de<br />
textos interligados de forma não linear –, podemos tomar como exemplo<br />
clássico uma enciclopédia em cd-rom como sua possibilidade 8 .<br />
7<br />
A ideia de hipertexto, como uma rede de textos conectados entre si, é muito antiga e remonta<br />
até mesmo ao manuscrito, quando os leitores faziam anotações nas bordas do texto, alterando<br />
os sentidos do primeiro. Em 1945, o matemático Vannevar Bush propôs a criação do Memex, um<br />
dispositivo que possibilitava ao leitor criar conexões entre textos de forma associativa, como uma<br />
rede, rompendo com a ideia de uma enunciação linear do texto. Além disso, os caminhos construídos<br />
pelos leitores podiam ser arquivados e trocados entre os usuários, propondo uma construção<br />
coletiva de dados. Ted Nelson, em 1965, coloca em prática a invenção de Bush, criando um sistema,<br />
então computadorizado, de leitura não linear de textos, o Projeto Xanadu. Amparado pela tecnologia<br />
da web, Pierre Levy enxergou no ciberespaço a possibilidade de um hiper-cérebro – a inteligência<br />
coletiva –, capaz de utilizar a forma do hipertexto como ferramenta para a construção de<br />
conteúdos coletivos (RIBEIRO, Ana Elisa; COSCARELLI, Carla Viana (Org.). Hipertexto em tradução.<br />
Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2007).<br />
8<br />
Qualquer texto pode se tornar hipertexto através da leitura, em que, virtualmente, o leitor circula<br />
por citações e referências mentais. Não é este o caso aqui. O hipertexto digital faz referência a<br />
outros textos, que ele permite sejam acessados a partir dele, através de links. Sua não linearidade,<br />
portanto, é limitada por ele mesmo, e não pelo leitor.