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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 259<br />

pela inovação tecnológica, para que o homem possa orientar suas proezas<br />

em direção à sua própria evolução. 9 Para De Certeau, o espectador de televisão<br />

era um receptor passivo; mas o que diremos das escolhas que o pay<br />

per view permite hoje, e, ainda, da programação de televisão on demand<br />

que é cada vez mais adotada por usuários de smartvs? Diante de meios e<br />

canais de comunicação, da disponibilidade de um imensurável conteúdo<br />

e da possibilidade relativa 10 de escolher o que consome, o hiperleitor vai<br />

continuar a ler literatura? E a pergunta seguinte: que literatura será essa?<br />

O mundo gira e constantemente retornamos, senão a velhas discussões,<br />

a debates reelaborados sob o mesmo ângulo maniqueísta que usamos<br />

desde que o criador viu “que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as<br />

trevas” 11 .Ou seja, para lembrar os ditames do mais antigo livro impresso,<br />

supostamente o bom e o mau já estavam separados quando o homem<br />

recebeu essa denominação. A mordida na maçã sinaliza a passagem para<br />

outra história, iluminada por Newton, que viu cair a fruta; Darwin analisou<br />

sua espécie e Nietzsche derrubou a árvore, Einstein relativizou a cena,<br />

Freud tentou explicar a intenção, Barthes matou o autor da história – que<br />

Marx já classificara como materialista – e Derrida desconstruiu-a. Bastante<br />

tempo depois do sétimo dia, ainda não temos muitas respostas e continuamos<br />

pensando – às vezes sob à sombra de velhas (e sábias) macieiras. Em<br />

todos os campos do pensamento sempre há a possibilidade do retorno,<br />

caso do tema que prazerosamente sempre ocupa a mente de apocalípticos<br />

e integrados: a literatura. A contraposição entre a literatura “feita do” e<br />

“para o” livro – a poética do papel – e a literatura que nasce a partir da<br />

cultura digital – a poética da hipermídia – segue os mesmos princípios de<br />

todo debate gerado a partir da evidência de uma transformação em curso,<br />

9<br />

O contrário disso seria a inovação controlar o homem, uma consequência da nossa incapacidade<br />

de refletir e avaliar para onde a tecnologia nos leva.<br />

10<br />

Sabemos que ainda existem formas de oferta e mesmo de manipulação no conteúdo em rede,<br />

apesar da possibilidade de interferência e de produção do usuário. Ou seja, ainda existe certo controle<br />

institucional sobre o conteúdo, cada vez menor, mas ele tem mudado de mãos.<br />

11<br />

Gênesis, Bíblia Sagrada. Disponível em: http://www.site-berea.com/C/pt/index.html. Acesso em:<br />

jan. 2011.

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