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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 155<br />

lê, coisa impossível quando se segurava o rolo com as duas mãos” XLVII . Foi<br />

uma liberdade do corpo, sem dúvida, relacionada à configuração material<br />

do suporte; a possibilidade de escrita à margem, no entanto, não libertou<br />

apenas o corpo do leitor, mas ainda seu pensamento, apto agora a se revelar<br />

fora dele mesmo. A leitura então se associava a uma escrita interpretativa.<br />

Mesmo sem a pena como instrumento de resposta, o imaginário do<br />

leitor conquistou um espaço mais amplo de fruição com a disseminação da<br />

leitura silenciosa, expandida pelo uso do códice. Liberto de uma interpretação<br />

coletiva – e geralmente institucionalizada – do texto, podia o leitor<br />

ele mesmo estabelecer um diálogo com o escrito e preencher os vazios<br />

sem a imposição de leituras preestabelecidas, dogmáticas, fechadas. Não<br />

é à toa que, quando pôde escolher num universo amplo de livros, já na era<br />

pós-Gutemberg, o leitor elegeu o romance para sua leitura extensiva. Havia<br />

ali um lugar mais aberto às suas entradas, e o leitor reconheceu-se no texto.<br />

Nessa época, a resposta do leitor ainda consistia basicamente em<br />

configurar a história ao nível do pensamento, construindo um sentido,<br />

e, mais ativamente, fazer anotações ao pé da página, citações em cartas,<br />

referências em conversas. No século XVIII, quando o jornal tornara-se<br />

veículo de comunicação diário e incluía a literatura, o leitor pôde dispor de<br />

um canal de observação entre o texto e a sua leitura, através da Crítica,<br />

cuja interpretação por muito tempo constitui-se como modelar. O leitor<br />

podia então conhecer uma concretização – particular ou institucionalizada,<br />

enfim – do seu objeto de leitura, e, por vezes, até mesmo responder ao<br />

que lia, através de contato com o autor – seja aquele do romance ou do<br />

folhetim ou mesmo o do texto crítico – através de cartas.<br />

Histórias de leitura que nos digam não apenas dos modos de ler, mas<br />

das concretizações pessoais de leitura de épocas mais distantes, praticamente<br />

inexistem. Baseadas no testemunho escrito do leitor, dependiam<br />

de livros ou jornais, suportes que, ainda hoje, constituem-se em privilégio<br />

para pouquíssimos – pelo menos dispor de meios de editar e distribuir<br />

uma obra impressa. A partir do século XX, histórias de leitura começaram<br />

a ser publicadas, não apenas facilitadas pelos avanços de novas técnicas

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