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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 263<br />

tural cujos poderes não servem apenas para defender os fracos e oprimidos,<br />

mas também para distingui-los entre seus pares, na difícil tarefa de<br />

construir uma personalidade válida no disputado universo juvenil. Esses<br />

são os vazios pragmáticos que chamam o leitor juvenil à participação e<br />

que, com o fim da série, continuam a despertar a escrileitura. Analisando<br />

as lacunas que permanecem na série Harry Potter, torna-se claro o quanto<br />

aquelas que dizem respeito ao universo juvenil são as que mais invocam a<br />

participação do escrileitor. Questões tais como a infância de Harry, que do<br />

ponto de vista desta leitora podiam gerar muitas histórias, não são alvo da<br />

escrileitura, enquanto os relacionamentos amorosos ou de amizade são o<br />

foco da escrita de fã. A produção de fãs tornou-se visível não porque eles<br />

fossem um fenômeno recente – Rousseau o sabe bem –, mas porque as<br />

novas mídias possibilitaram sua reação – suportes em cujo manejo os jovens<br />

hiperleitores são hábeis.<br />

Neste ponto, é pensar que literatura é essa que atrai o leitor juvenil e<br />

o estimula à participação, porque é esse o leitor que se torna o hiperleitor<br />

da era dos tablets, e aí começaremos a definir que tipo de conteúdo vai ser<br />

objeto da hiperleitura. De um lado, como já sugeri, os temas e personagens<br />

com os quais o leitor jovem se identifica, de outro, o esquema indeterminado<br />

da narrativa, em que as lacunas permitem as entradas do leitor em cada<br />

um dos níveis, na medida de sua capacidade e desejo. A série Harry Potter,<br />

por exemplo, permite o controle do leitor sobre a interação na perspectiva<br />

da composição do imaginário sobre os aspectos semânticos do texto, mas<br />

domina sintaticamente a recepção, induzindo a que o leitor pense que<br />

controla o eixo significativo do enredo. A redundância alcança o conforto<br />

do leitor, na medida exata desse controle. Os leitores sentem prazer em<br />

desvendar os esquemas que lhe parecem ser tão fechados à percepção,<br />

mas que, na verdade, são apenas grandes indutores de imaginação. Nada de<br />

novo no mundo da literatura, em que as histórias de suspense sempre foram<br />

um grande atrativo. Mas a junção entre esse mundo fantástico, propício<br />

à construção do imaginário, os aspectos do real com os quais o leitor se<br />

identifica e a possibilidade de interferência por parte do receptor tornaram

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