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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 231<br />

ocorre não através de contemplação ou reflexão, mas do hábito, daquilo<br />

que ocorre de um modo que não exige esforço por parte do fruidor” XXX .<br />

Ainda hoje, parece mais fácil ao receptor comum a fala sobre filmes do que<br />

sobre textos escritos, mesmo quando ambos estão dentro do contexto<br />

da cultura de massa. Talvez seja o entendimento de que a crítica do livro,<br />

mais teórica e academicista, é mais exigente com seu objeto, ou, porque<br />

a própria linguagem escrita, pelo menos a do discurso literário, é artificial<br />

em relação à vida – que na tela se mostra.<br />

Atualmente, a tecnologia e os recursos da produção artística e cultural<br />

estão ao alcance de grande parte dos usuários de hipermídia – talvez por<br />

isso alguns artistas elevem a arte digital ou tecnológica ao máximo uso de<br />

ferramentas robóticas, inacessíveis ao consumidor comum – confirmando<br />

esse processo de imbricamento entre as esferas de produção e recepção,<br />

em que mesmo a arte se dilui no cotidiano. Munidos dessa tecnologia, os<br />

hiperleitores fazem da leitura a fruição naturalizada de objetos, colocando<br />

em evidência a afirmação de Benjamim sobre a relação entre o significado<br />

social da arte e a crítica – como interpretação – de seu receptor.<br />

Essa geração hipertecnológica, que nasceu diante do computador, está<br />

aprendendo a ler de uma forma não apenas distinta daquela da passagem<br />

da cultura oral para a escrita, mas que, ainda, transforma-se sem que<br />

tenhamos tempo de pensar sobre ela. Olson destaca o desenvolvimento<br />

cognitivo da criança ao compreender a relação de “segunda ordem” no uso<br />

da linguagem, que se dá, geralmente, simultaneamente à alfabetização:<br />

“as crianças atingiram, ao nível da ‘primeira ordem’, um entendimento<br />

do entendimento; o que elas adquirem em uma ‘segunda ordem’ é uma<br />

compreensão da interpretação” XXXI . Isso se dá pela apreensão da ‘intenção<br />

comunicativa’ e pela noção de subjetividade que ela precisa adquirir, o que<br />

ocorre já próximo à adolescência, quando a criança percebe não apenas a<br />

distinção entre aquilo que foi dito ou falado e o que se queria dizer, mas<br />

também problemas de ruído, ironia e interpretação.<br />

Esse processo descrito por Olson é todo erigido a partir do aprendizado<br />

da linguagem escrita – a passagem da comunicação oral para a escrita –, e

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