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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 77<br />

possível, por exemplo, citar displicentemente o nome de uma personagem em<br />

meio a um diálogo sem nenhuma intenção aparente e nenhuma explicação.<br />

Mais tarde, essa personagem ressurge, com sobrenome, endereço e função,<br />

e tudo se encaixa perfeitamente. O leitor, na formalidade da apresentação,<br />

fica com a sensação de conhecer aquela figura de algum lugar e, se a<br />

memória não ajuda, resta buscar a lembrança em outra página ou volume.<br />

Embora capaz de estimular o leitor a pensar sobre a história e, portanto,<br />

a preencher mais lacunas, esse tipo de texto, acrescenta Iser, não se torna<br />

necessariamente superior. Ele pode parecer melhor porque justamente<br />

reforça a sua ligação com o leitor ao exigir mais sua participação, mas<br />

não tem sua qualidade literária alterada XXVII . E aqui certamente está uma<br />

das explicações para o fato de que a obra de Rowling sofra críticas por<br />

parte de alguns estudiosos e literatos, enquanto aumenta dia a dia seu<br />

prestígio junto ao público receptor: a comunicação texto/leitor, instigada<br />

pela indeterminação.<br />

Mas, se não devo julgar a qualidade literária de um texto que é muito<br />

lido somente por instigar a curiosidade de seus leitores entre um capítulo e<br />

outro, há que analisar, minimamente, de que forma o leitor responde a esse<br />

tipo de estratégia. Partindo de noções de Umberto Eco sobre a leitura – “[...]<br />

uma competência circunstancial diversificada, uma capacidade de pôr em<br />

funcionamento certos pressupostos [...]” XXVIII – e Wolfgang Iser – “o texto<br />

é o processo integral, que abrange desde a reação do autor ao mundo até<br />

sua experiência pelo leitor. [...] então a práxis da interpretação, que dele<br />

deriva, visa principalmente ao acontecimento da formação de sentido” XXIX<br />

–, podemos afirmar a pluralidade de aspectos que envolvem a concretização<br />

dos textos pelo receptor, idiossincrasias que têm início no efeito da realidade<br />

sobre o autor até a reação do leitor a partir da leitura, culminando, assim,<br />

no efeito último: a resposta, que é circunstancial.<br />

Descrever esse efeito, como pretende a prática da crítica literária voltada<br />

à instância do leitor como elemento construtor de sentido, permanece<br />

difuso. De um lado, a possibilidade de questionar o leitor empírico como<br />

forma de constituir concretizações de leitura, embasando-a em entrevistas;

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