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HIPERLEITURA

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Hiperleitura e escrileitura<br />

suas figuras e imagens – e é aqui que se dá o preenchimento pelo escrileitor.<br />

Se, por um lado, a fanfiction se aproxima do discurso crítico porque ajuda<br />

a ler o texto de Rowling – e essa também é uma razão porque proponho<br />

tal tese –, por outro, afasta-se desse discurso, porque não permite que<br />

apliquemos a outros textos sua escritura.<br />

E é escritura porque seu texto é uma enunciação criativa e única, legível<br />

e irrepetível, cujo valor se torna também diferente de outros textos<br />

criativos, como o texto literário. Ela raramente se dá a ler como um texto<br />

literário, já que seus leitores buscam em suas linhas mais motivos para<br />

pensar e compreender o texto original. É próprio do ato de leitura de<br />

uma fanfiction que o leitor seja levado a se dirigir ou a retornar ao texto<br />

original, para compreendê-lo e compreendê-la, como é comum na leitura<br />

de um texto crítico. No entanto, pensando nas motivações de seu sujeito<br />

produtor, cuja intenção primeira é criar outra história – mesmo que ligada<br />

de forma palimpsêstica à original – e, portanto, prioriza a linguagem,<br />

proponho pensarmos a fanfiction como uma escritura-leitura – fundida<br />

no termo escrileitura –, e não uma crítica-escritura, objeto de estudo de<br />

Perrone-Moisés e cuja prioridade é o conteúdo e não a forma. Enquanto<br />

o objeto principal de Perrone-Moisés é a Crítica – então realizada por um<br />

“escritor em crise”, a fanfiction, objeto aqui, é produto de uma “leitura<br />

em crise” – ambas encontram-se neste “caminho entre dois mundos”, da<br />

linguagem, do simbolismo, da criação, mas também da metalinguagem, da<br />

interpretação e da enunciação.<br />

Era prevista outra configuração para o mundo fanficcer assim que a série<br />

chegasse ao fim, talvez a diminuição marcante da submissão aos esquemas<br />

do texto – mesmo o desaparecimento desse cuidado. Muitos dos vazios<br />

foram preenchidos, e a motivação do escrileitor deixou de ser adivinhar o<br />

que ainda não foi dito. No entanto, se essa escrita do leitor expressa sua<br />

análise e concretização da obra, nos moldes de uma escrileitura, ainda há<br />

razão para sua existência, como é possível observar na continuidade das<br />

postagens. Harry Potter não pode ser chamado de texto aberto, pois sua<br />

condição lacunar não é de princípio, como o colocado por Bakhtin, conceito

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