15.01.2016 Views

HIPERLEITURA

WG5b2B

WG5b2B

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

210<br />

Hiperleitura e escrileitura<br />

semiológico da crítica tradicional 7 e, ainda, além da crítica contemporânea 8 ,<br />

seria uma prática que se arrisca na experiência da linguagem para produzir<br />

um novo sentido, esse sim seu objetivo. Dessa forma, compreender o texto<br />

significaria preencher seus vazios através de uma leitura-escritura, que aqui<br />

passo a chamar de escrileitura – e seu produtor, o escrileitor.<br />

No campo da ciberliteratura, ou da literatura ergódica, em que cabe<br />

ao computador o papel de selecionar palavras (de um banco de dados) e<br />

combiná-las, resultando em uma obra “variacional” – alguns chamam de<br />

arte variacional – Pedro Barbosa IV chama escrileitor ao leitor que lê nesse<br />

espaço virtual. O texto, aí, resulta de um processo combinatório realizado<br />

pela máquina que, quando permite a interatividade do leitor no processo<br />

de leitura-escrita, transforma o leitor em escrileitor:<br />

A introdução da interactividade no momento da recepção do texto<br />

em processo pode conduzir a uma interversão simbiótica nas<br />

funções tradicionais do autor e do leitor mediante uma maior ou<br />

menor participação deste último no resultado textual final: entra-se<br />

num processo de escrita pela-leitura ou de leitura-pela-escrita que<br />

se pode denominar de “escrileitura”, o que implica um novo papel<br />

para o utente/leitor - “escrileitor”, “wreader” ou “laucteur” (p. 7)<br />

Escrileitor e máquina são então autores do texto, como expõe Barbosa.<br />

A interatividade desse leitor no processo pode variar, indo desde a mera<br />

navegação à combinação de elementos para compor o poema. Neste último<br />

caso, talvez o mais adequado, pensando no modo como se constrói esse texto<br />

virtual, chamar o processo de authreading, e o agente, de authreader. Aliás, o<br />

fato de a aglutinação em francês acontecer entre o termo “lecteur” e “auter”<br />

e não “écrivain” diz bastante sobre o sentido de escrileitura como tomam os<br />

estudos de ciberliteratura. Em português, no entanto, os termos autor e leitor<br />

não se ajustam, e aí, a escolha recaiu na tradução de wreader: escrileitor. 9<br />

7<br />

Anterior ao séc. XIX, aquela falada por Brunetière, cujo texto é portador de uma mensagem em<br />

que a primazia está apenas no que é dito (e não no como). (PERRONE-MOISÉS, Leyla. Texto, crítica,<br />

escritura. São Paulo: Martins Fontes, 2005).<br />

8<br />

Aberta aos estudos culturais, acompanha seu objeto, seguindo em linguagem e forma novas expressões,<br />

mas que ainda supõe a metalinguagem como objetivo.<br />

9<br />

Pensando nesse processo de authreader, ou autleitor, se fôssemos traduzi-lo através de uma aglutinação<br />

similar, podemos chegar aos poemas das vanguardas concretistas, quando é necessário que

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!