HIPERLEITURA
WG5b2B
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Hiperleitura e escrileitura<br />
A mudança de perspectiva do “texto” – forma e estrutura linguística –<br />
para seu “sentido”, e a tomada por uma consciência histórica, a partir das<br />
ideias de Gadamer, levou Jauss a defender a interpretação do leitor como<br />
eixo para a compreensão do próprio sistema literário. Embora tenha sido<br />
considerada uma reação à crítica vigente, as ideias de Jauss, levadas adiante<br />
por teóricos como Wolfgang Iser, tomam de empréstimo os modos de ler da<br />
Hermenêutica – ao buscar sentido no próprio ato de interpretação – e ainda<br />
nas práticas formalista, estruturalista e fenomenológica de análise textual.<br />
O Formalismo preocupou-se, mais do que em buscar um método, em<br />
resgatar a essência de seu objeto de estudo: a literariedade 15 . Assim, tentou<br />
isolar os estudos do texto de tudo que lhe fosse alheio, teoricamente, como<br />
a Psicologia, a História e a própria Estética, empréstimos que, sob o ponto<br />
de vista formal, obnubilavam a propriedade do literário. Posicionando-se<br />
contra as teorias do Romantismo e do Simbolismo, o método formal buscou<br />
romper com as análises subjetivistas e filosóficas, evocando a técnica e a<br />
cientificidade do fazer crítico, como explica Eikhenbaum: “O próprio estado<br />
das coisas nos pedia que nos separássemos da estética filosófica e das teorias<br />
ideológicas da arte” X . Para encontrar a especificidade do literário, os<br />
formalistas compararam a linguagem poética com a linguagem cotidiana,<br />
confrontando textos em que a função era diferente, orientando-se através<br />
de um viés linguístico.<br />
A concepção diacrônica do Formalismo tratava da evolução das formas<br />
– uma nova assumindo uma antiga. Sob o pretexto de que não se devia<br />
confundir a História dos costumes com a História da Literatura, o método<br />
formal excluía questões extratextuais, comparando antes obras a obras.<br />
Esse rigor em afastar tudo que fosse extrínseco ao texto, ao mesmo tempo<br />
em que admitia uma evolução – impossível sem a referência às condições<br />
sócio-históricas de produção e de leitura –, foi a contradição que impediu a<br />
continuidade dos estudos formalistas. Para alguns críticos, a análise imanente<br />
15<br />
Ou literaturidade, na tradução portuguesa para o russo literaturnost. EIKHENBAUM, B. A teoria<br />
do método formal (In: TODOROV, Tzvetan (Org.) Teoria da literatura I – Textos dos formalistas<br />
russos apresentados por Tzvetan Todorov. Lisboa: Ed. 70, 1999, p. 29-71).