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HIPERLEITURA

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20<br />

Hiperleitura e escrileitura<br />

Assim, o texto crítico utiliza os mesmos objeto, meio, modo e mito 19 daquele<br />

que o originou e busca, ainda – e bem explicitamente, no caso da fanfiction<br />

– o mesmo efeito, ao dirigir-se a um leitor pré-definido pela existência de um<br />

texto anterior. Ou talvez o escritor de fanfiction seja apenas um falante cuja<br />

linguagem seja a mesma de que se valeu o texto para lhe fazer perguntas,<br />

que ele responde e repete, num jogo infinito de legibilidade.<br />

Tais questões evidenciam as mudanças no papel do leitor frente à experiência<br />

da leitura; o gesto de abrir, folhear e fechar o livro pode equivaler<br />

não mais apenas a gerar um significado ou uma possível concretização<br />

individual de uma obra, mas ser o início de um processo que pode culminar<br />

na transformação do seu sentido e interferir nos procedimentos de sua<br />

escritura. A recepção abrangeria a participação do leitor na criação – e não<br />

apenas na decodificação – do texto. Ou, como já supomos, o leitor utilizaria<br />

as mesmas ferramentas do escritor para responder ao texto – linguagem,<br />

forma e conteúdo.<br />

A Teoria do Efeito, portanto, oferece um modo concreto de examinar a<br />

recepção de Harry Potter, já que permite buscar o leitor dentro do próprio<br />

texto, através do exame das estruturas que condicionam a sua participação,<br />

os lugares vazios, que, aqui, julgamos ser uma das razões principais que<br />

tornam a série de Rowling esse fenômeno de leitura.<br />

Em pesquisa realizada como dissertação de Mestrado, fiz a leitura de<br />

346 fanfics sobre a série Harry Potter, buscando compreender se a produção<br />

desse tipo de texto, ao ser considerada como um elemento da recepção,<br />

seria uma forma de o leitor infantil e juvenil preencher as indeterminações<br />

da narrativa original. Utilizando as teorias da Estética do Efeito, de Wolfgang<br />

Iser, realizei uma análise do primeiro volume da série, Harry Potter e a pedra<br />

filosofal, com a finalidade de descrever de que forma as perspectivas geridas<br />

pelo texto introduzem indeterminações. A seguir, confrontei esses vazios<br />

com a resposta do leitor, através do exame da sua produção na internet – as<br />

19<br />

Conforme Aristóteles, em sua Poética, essas são as partes que compõem a obra de poesia – ou<br />

os gêneros épico, trágico e dramático, em que ele classificou os textos literários.

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