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HIPERLEITURA

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Ana Cláudia Munari Domingos 67<br />

postamente deter a variação de sentidos do texto. No entanto, essa tese<br />

entrava em choque com o velho mito do sentido, desde os formalistas, pois<br />

levava à ideia de que, paralelamente, não existe uma leitura ideal, corrompendo,<br />

assim, o próprio método de análise, que se fechava no texto como<br />

detentor de um sentido único e original XV .<br />

A pluralidade de sentidos sempre foi uma questão que preocupou os<br />

teóricos da literatura, pois tornava escorregadia a prática crítica, em que<br />

a contingência na constituição do objeto destituía seu caráter científico.<br />

Sempre que o papel do leitor era referido como autoridade, buscava-se,<br />

assim, resgatar um eixo limitador para a interpretação. O New Criticism<br />

foi a favor de uma close reading 22 , realizada por especialistas acadêmicos,<br />

como forma de conter o avanço, novamente, das interpretações subjetivas,<br />

avalizadas pelo então recente poder do leitor.<br />

Tal poder flutuava entre as teorias – leitor e texto disputavam a primazia<br />

na constituição de sentido. Ora o leitor seria um mero especulador dos<br />

significados do texto, que já então sofria as consequências da descoberta da<br />

ambiguidade e da polissemia, ora seu poder adquiria a conotação de reescritura,<br />

superando os ditos do texto. O psicanalista Norman Holland levou<br />

a interpretação para a raia da “identidade”: é a projeção da subjetividade<br />

do leitor sobre as objetividades do texto que constrói seu sentido. Dessa<br />

forma, interpretar o texto significaria encontrar-se nele; revelar o sentido,<br />

por outro lado, denotaria trazer à tona não apenas as fantasias do leitor<br />

(não esquecendo as referências psicanalíticas de Holland), mas também as<br />

do autor, escondidas na objetividade do texto. O texto certamente insere<br />

temas específicos, mas a unidade desses temas passa pelo self do leitor 23 :<br />

“Cada leitor agrupa as especificidades do jogo dentro dos temas que ele<br />

julga importantes, e se ele escolhe comprimir para um tema central, condensando-o<br />

extremamente, será certamente algo que importa para ele.”<br />

22<br />

A tradução literal é “leitura fechada”. Tal interpretação buscava esgotar todos os sentidos do<br />

texto através da análise de todas as suas particularidades, fechando os significados dentro da estrutura<br />

do próprio texto.<br />

23<br />

Alguns dos conceitos sobre os quais a teoria de Holland se mantém são: unidade, identidade,<br />

texto e self.

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