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HIPERLEITURA

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206<br />

Hiperleitura e escrileitura<br />

É esse objeto hipotético – híbrido, paradoxal, inclassificável, décadas<br />

depois ainda indefinível – que cerca a discussão aqui promovida, agora num<br />

âmbito pós-moderno, porque não é o livro – como agente-manifesto dessa<br />

mudança e em cuja história estão traçadas também as linhas diacrônicas<br />

da literatura – o suporte desse objeto, mas a rede virtual, a internet. E, se<br />

muda seu suporte, o que mais se modifica? Quem é seu sujeito-produtor? O<br />

que ele manifesta e com que intenção? Será a intenção desse produtor um<br />

critério para incluir seu texto no rol da Crítica, quando, hoje, são tão sutis<br />

as fronteiras entre os discursos? Podemos relacionar esse objeto à Crítica,<br />

ela própria sem gênero definido desde o nascimento?<br />

Brunetière, já prevendo o rumo disforme que tomava seu fazer crítico<br />

(literário?), resolvia que a Crítica devia ser sempre chamada pelo mesmo<br />

nome, porque sua essência não muda, porque seu objeto é sempre o mesmo.<br />

No entanto, para ele, o fazer crítico consistia em julgar, classificar e explicar<br />

o texto literário – e a possibilidade de uma fuga desses objetivos reverteria<br />

em desnaturalização da Crítica. II Não ouso comparar o texto objeto do meu<br />

estudo – a fanfiction – com aquele texto sobre cujos objetivos Brunetière<br />

era tão inflexível, mas pretendo, sim, reeditar a discussão de Perrone-Moisés<br />

sobre determinada manifestação crítica – de ato de escrevência a ato de<br />

escritura 2 – nos moldes do que hoje é possível: a escrita do leitor na internet.<br />

A internet, como suporte da escrita – seja ela criativa ou não –, vem<br />

revolucionando práticas que antes eram exclusivas daqueles que dispunham<br />

do fulcro do livro, da revista, do jornal ou da televisão. Ser capaz de<br />

divulgar uma ideia – sobre qualquer objeto, da ciência, da literatura, da<br />

política – equivalia a dispor de um meio físico, que, por sua vez, elevava o<br />

sujeito-produtor a outro nível – cientista, escritor, jornalista, ensaísta, crítico.<br />

Em A aventura do livro, Roger Chartier comenta a modificação do<br />

espaço do crítico, papel que, atualmente, pode ser assumido por qualquer<br />

leitor de forma espontânea, bastando o clic no mouse ou o deslizar do dedo<br />

2<br />

Barthes pensava a “escrevência” como um ato transitivo a outro texto (sentido), em que a primazia<br />

estava no conteúdo, no que ele dizia sobre algo. A “escritura” não repete, fala, mais pelo foco<br />

no “como” é dito, por sua criação formal, do que pelo que diz.

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