HIPERLEITURA
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Ana Cláudia Munari Domingos 255<br />
Nem ao extremo do pensamento tecnófobo, nem ao do tecnófilo IV , o<br />
caminho é o da visão perspectiva, uma linha que tangencia, não o círculo<br />
do eterno retorno, mas uma espiral, em que por vezes as bordas se tocam<br />
3 . Há uma transformação em curso, cujo fim sequer o meio termo do<br />
humanismo tecnológico é capaz de prever, que atinge profundamente o<br />
domínio do pensamento e sua expressão: as formas de escrever e ler (ou<br />
reescrever) o mundo. 4 Já em 1996, Santaella observava as “mutações que<br />
as mídias têm provocado nas formas tradicionais de cultura” V e hoje, quase<br />
vinte anos depois, vivemos em torno das conexões – com instituições,<br />
empresas e pessoas – que a tecnologia das novas mídias nos possibilita<br />
realizar. Vivenciamos uma época em que as práticas humanas cada vez<br />
mais demandam a comunicação – entre homens, entre instituições, entre<br />
máquinas –, e, dentro desse contexto, a cultura, que tem nas práticas<br />
comunicativas sua essência, torna-se mais uma forma que convoca essa<br />
interrelação ao limite, em que o efeito dos objetos culturais parece ser o<br />
de justamente demandar a participação e a resposta de seus interagentes.<br />
Esse evento, que pode parecer apenas uma variação nas formas de<br />
expressão e de relacionamento é, sim, uma transformação na esfera do<br />
tempo e da distância, na perspectiva do homem diante dos fatos, de si<br />
mesmo e do outro. Tal mudança simultaneamente sucede dos modos de ler<br />
– em seu sentido amplo de diálogo entre o homem e seu espaço – e implica<br />
uma constante influência sobre as novas práticas de leitura. Ou seja, nossas<br />
formas de ler também têm um sentido sobre o que lemos, parafraseando,<br />
em outros termos, a famosa frase de McLuhan 5 . E nossas práticas culturais<br />
estão imbricadas com nosso modo de pensar:<br />
3<br />
“Porque o passado sempre ressurge com uma volta a mais no parafuso” (VILA-MATAS, Enrique.<br />
Bartleby e companhia. São Paulo: Cosac Naify, 2004, p. 33).<br />
4<br />
Manguel diz que o ato da escrita se confunde com muitas outras atividades que se utilizam da<br />
palavra: “enumerar, anotar impressões, ensinar, informar, noticiar, conversar, dogmatizar, resenhar,<br />
engambelar, fazer declarações, anunciar, fazer proselitismo, dar sermão, catalogar, informar, descrever,<br />
‘brifar’, tomar notas”; e nós podemos acrescentar: ler (MANGUEL, Alberto. À mesa com o<br />
chapeleiro maluco: ensaios sobre corvos e escrivaninhas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009,<br />
p. 96).<br />
5<br />
“O meio é a mensagem”, já referida aqui.